domingo, 21 de junho de 2015

Dívidas das empreiteiras propineiras preocupam bancos

As prisões, na sexta-feira (19), dos presidentes da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e Otávio Marques de Azevedo, da Andrade Gutierrez, acendeu a luz amarela entre banqueiros. Atentos às dívidas bilionárias dessas empresas, os bancos podem ser impedidos de renovar empréstimos já contratados que vencem no curto prazo ou conceder novos financiamentos para essas empresas. Muitos bancos têm regras internas que vetam negociações com companhias cujos donos ou a alta cúpula estão na cadeia ou diretamente envolvidos em casos de corrupção. A Odebrecht, por exemplo, tem uma dívida que chega a R$ 63,3 bilhões. Sem poder alongar seu endividamento ou tomar novos créditos, surge o temor de paralisação das atividades ou até de uma renegociação de dívidas. Esse cenário, no entanto, não é tão agudo para essas gigantes como para OAS e Galvão Engenharia, que terminaram recorrendo à recuperação judicial. Sob o impacto da prisão dos executivos, os títulos de dívida no Exterior mais negociados da Andrade Gutierrez caíram na sexta-feira 16%, indo para US$ 71,15. Já os papéis da Odebrecht cederam 9,12%, cainda para US$ 80,00. Quando os executivos da OAS foram presos na primeira fase da Operação Lava Jato, os bônus da companhia no Exterior passaram a ser negociados como empresas à beira da falência. Odebrecht e Andrade Gutierrez estão longe desse patamar. Os banqueiros acham que, mesmo que sejam obrigados a travar os créditos para as duas empreiteiras, elas levariam muito mais tempo para se deteriorar, porque possuem uma carteira robusta de contratos, parcerias com outras empresas em consórcios e um perfil de endividamento mais confortável. Os braços de construção dos grupos Odebrecht e Andrade Gutierrez foram atingidos pela investigação da Polícia Federal em um momento delicado. Com o Tesouro segurando pagamentos por conta do ajuste fiscal, as empreiteiras enfrentam dificuldades para conseguir receber aditivos dos contratos de grandes obras de infraestrutura. Segundo relatório da agência de classificação de risco Moody's, a construtora Andrade Gutierrez foi prejudicada por esses atrasos nos pagamentos e outras despesas inesperadas. No terceiro trimestre do ano passado, a empreiteira queimava R$ 455 milhões de caixa, sinal de que gasta mais em suas obras do que consegue receber. Para fechar o buraco, foi obrigada a recorrer a uma captação de R$ 330 milhões junto aos acionistas e a um empréstimo de R$ 430 milhões de empresas do grupo. Nessa situação, a alavancagem da construtora Andrade Gutierrez cresceu. A relação entre a geração de caixa e a dívida líquida, que era de cerca de duas vezes em 2010 e 2011, um nível saudável, saltou para 5,6 vezes em setembro do ano passado. O cenário não é tão alarmante, porque a empresa ainda tem um caixa robusto, que chegava a R$ 1,7 bilhão em setembro do ano passado. Esse volume é suficiente para cobrir 67% das dívidas da empresa, incluindo empréstimos inter companhias e garantias que não são registradas em balanço. No braço de construção da Odebrecht, a situação é mais tranquila, porque a companhia está menos exposta ao mercado brasileiro. Cerca de 49% de sua receita vem dos 21 países em que atua. Com uma queda menos robusta das margens de lucro, a relação entre dívida e geração de caixa do braço de construção da Odebrecht passou do patamar tradicional de 2 vezes para 2,7 vezes em setembro de 2014 – patamar ainda bastante confortável, especialmente no setor. No terceiro trimestre do ano passado, a companhia tinha R$ 6,9 bilhões em caixa, suficiente para cobrir 75% de sua dívida.

Nenhum comentário: