quarta-feira, 10 de junho de 2015

Ministro tenta insistir na falácia de que concessões petistas são diferentes de privatizações tucanas

Nelson Barbosa, ministro do Planejamento, é um petista que não costuma dizer tolices. A minha recomendação é que não comece a fazê-lo agora. Por que renunciar ao caminho da boa distinção para cair na vala comum do proselitismo mixuruca? A que me refiro?
Concessão e privatização
O ministro participou de uma audiência no Senado e procurou endossar o discurso vigarista — lamento, viu, Barbosa? — de que as concessões que o PT faz são diferentes das privatizações tucanas. O doutor sabe que está enrolando o público. Se o governo quiser tomar a Embraer de volta, com efeito, ele não pode porque não se trata de uma área do estado, exercida sob concessão. O Brasil já chegou a ser dono até de hotel… Quanto ao resto, pode, sim. Serviço de telefonia, mineração, ferrovia, rodovia… A iniciativa privada explora essas áreas sob CONCESSÃO, senhor Barbosa, que o PT sempre chamou PRIVATIZAÇÃO. Então ficamos assim: se era privatização antes, é agora; se é concessão agora, era concessão antes. Insistir na distinção afeta a sua seriedade.
Pouco dinheiro
Barbosa foi indagado sobre o peso que o pacote de concessões pode ter no PIB — e ele certamente respondeu pensando pelo topo, isto é, imaginando que tudo sairá conforme o que está no papel, o que não vai acontecer. Ele respondeu: 0,5 % ao ano. Claro que, para um país que vai encolher quase 2% neste 2015, é um ganho considerável — se acontecer. Mas o número dá conta de que o barulho da percussão é bem superior à qualidade da música.
BNDES
Barbosa afirmou que o BNDES continuará ativo no processo de privatização, mas agora buscando uma parceria mais efetiva com o financiamento privado: quanto mais a empresa conseguir se financiar no mercado, mais acesso terá ao juro subsidiado do banco público. Faz sentido. Na área de ferrovia, no entanto, o BNDES pode adotar um critério mais generoso.
Bioceânica
O ministro negou que a Ferrovia Bioceânica seja o trem-bala da hora, o projeto aloprado da presidente Dilma, que consumiu muitos milhões na fase de estudos e não vai sair do papel. “Trem-bala só faz sentido se fizer todo traçado; a ferrovia Bioceânica pode ser feita em partes, começando pelas que são mais viáveis comercialmente.” Citou, por exemplo, os trechos de Sapezal (MT) a Porto Velho (RO) e de Água Boa (MT) até Campinorte (GO). Certo, como se nota, ele também achava a obsessão de Dilma uma bobagem. 
A ver. A coisa tem certo cheiro de megalomania, especialmente porque, hoje, amarrado ao Mercosul, tanto faz o Brasil ter acesso a um ou a dois oceanos. Ficará igualmente travado. Há um risco de que esse troço comece e vire aquele peso a ser levado por gerações. “Ah, Dilma nos abriu o caminho para o Pacífico.” Ao que perguntaria o poeta Ascenso Ferreira: “Pra quê?”. E a resposta seria: “Pra nada!”.
De resto, como a área de ferrovia é justamente aquela em que o BNDES vai entrar de modo mais generoso, a chance de o dinheiro ser jogado fora é grande. Por Reinaldo Azevedo

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