sexta-feira, 19 de junho de 2015

Polícia Federal prende executivos na Lava Jato


O juiz federal Sergio Moro afirmou que os investigadores descobriram uma transferência de R$ 500 mil de Fernando Soares, conhecido como Baiano, para o presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo. Azevedo foi preso nesta sexta-feira (19) pela Polícia Federal, no âmbito da Operação Lava Jato. Baiano é apontado pelos investigadores da Lava Jato como intermediador de propinas para ex-diretores da Petrobras e integrantes do PMDB. Segundo Moro, a transferência de recursos ocorreu em outubro de 2012 e saiu da conta da empresa Hawk Eyes, atribuída a Baiano, para Azevedo. Baiano admitiu, segundo o juiz, que a transação teve como objetivo pagar uma lancha adquirida por Azevedo, o que demonstraria a ligação entre os suspeitos. Segundo Moro, há provas de que a empreiteira transferiu R$ 1,19 milhão para uma empresa de Baiano –apontado como o operador do PMDB no esquema. A operação teria servido, diz o juiz, "apenas de veículo para propiciar o repasse de valores de propina da empreiteira para o intermediador e deste para dirigentes da Petrobras". O advogado de Baiano, Nelio Machado, nega sistematicamente que seu cliente tenha recebido suborno em contratos da Petrobras.
O empresário Otávio Marques de Azevedo, durante jantar em homenagem a Eduardo Paes (PMDB-RJ)
Outra prova contra a Andrade Gutierrez, de acordo com Moro, é um depósito de US$ 1 milhão feito em dezembro de 2008 por uma empresa de Angola – chamada Zagope – para uma firma do lobista Mário Goes na Suíça. Posteriormente, Goes repassou o montante para uma conta na Suíça de Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras. A Zagope faz parte do grupo Andrade Gutierrez, segundo os investigadores da Lava Jato. A conta de Goes foi aberta em nome de uma empresa chamada Phad Corporation; a de Barusco tinha como titular a Blackspin. "Portanto, há a demonstração de uma conexão direta entre a Andrade Gutierrez (Zagope), a Phad Corporation, controlada por Mario Goes, e a conta controlada por Pedro Barusco (Blackspin), com fluxo financeiro da primeira para a última", escreveu o juiz. Moro menciona também que a fatura do pagamento à empresa de Goes traz a anotação "antonio.pedro", "o que é indicativo do envolvimento de Antonio Pedro Campello de Souza Dias, que foi diretor da Andrade Gutierrez". Barusco disse que Antonio Pedro era um de seus contatos na Andrade Gutierrez. O juiz relata ainda que há uma série de contratos suspeitos de consultoria entre Mario Goes e a Andrade Gutierrez. "Há fundada suspeita de que os contratos e notas não correspondem a serviços efetivos prestados pela Rio Marine [empresa de Goes] e por Mario Goes à Andrade Gutierrez, servindo apenas de veículo para propiciar o repasse de valores de propinas para o intermediador e deste para os dirigentes da Petrobras". Moro relata ainda que delatores como Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef, Pedro Barusco e Julio Camargo citaram o pagamento de propina pela Andrade Gutierrez em depoimentos que prestaram após fecharem acordo para ter uma punição menor. Moro escreveu que "parece inviável" que o esquema de corrupção na Petrobras fosse desconhecido do presidente Andrade Gutierrez, uma vez que os crimes contra a estatal tiveram início em 2004 e os contratos e propinas a eles relacionados tiveram valores milionários. Essa é uma referência à "teoria do domínio do fato", que é usada no meio jurídico para incriminar os chefes de organizações apontadas como criminosas. O magistrado afirmou ainda que as reações da Andrade Gutierrez contra as medidas da Lava Jato também indicam o envolvimento de seus dirigentes nos crimes. De acordo com o magistrado, apesar da deflagração da operação, a empresa – assim como a Odebrecht, também alvo desta fase da Lava Jato– não tomou medidas internas para erradicar a corrupção. No despacho, o juiz ressalta que as prisões são necessárias para evitar a reiteração de crimes contra o Poder Público, pois as empresas possuem contratos em andamento com a Petrobras e outros entes públicos. "Enfim, quanto ao risco a ordem pública, a prisão cautelar é o único remédio apto a quebrar a aludida 'regra do jogo'", escreveu. Em um de seus depoimentos às autoridades, o executivo da Camargo Corrêa disse que a "regra do jogo" em contratos com a Petrobras envolvia o pagamento de propinas. A Andrade Gutierrez informou que presta todo o apoio necessário aos seus executivos nesse momento. "A empresa informa ainda que está colaborando com as investigações no intuito de que todos os assuntos em pauta sejam esclarecidos o mais rapidamente possível. A Andrade Gutierrez reitera, como vem fazendo desde o início das investigações, que não tem ou teve qualquer relação com os fatos investigados pela Operação Lava Jato, e espera poder esclarecer todas os questionamentos da Justiça o quanto antes", afirmou.

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