terça-feira, 23 de junho de 2015

Superávit primário: Levy negocia como contar ao mercado que meta terá um corte de mais de 45%. Ou: Ministro, comece a rever também 2016 e 2017!

É curiosa a situação de Joaquim Levy, ministro da Fazenda. Ele terá de convencer o mercado e as agências de classificação de risco daquilo que eles já sabiam: o Brasil não vai cumprir a promessa de fazer o já modesto 1,1% de superávit primário. O ministro já começou a negociar com o Congresso o que é factível: praticamente, a metade disso: 0,6%.

Todo mundo já sabia que aquele 1,1% era inviável, mas Levy insistia na marca porque temia que um recuo pudesse dar a entender falta de compromisso do governo com as contas públicas. Ocorre que a aplicação do ajuste fiscal está sendo mais lenta do que ele imaginava. E parte dele já foi descaracterizado, diminuindo a economia. Se, antes, insistir no 1,1% demonstrava a solução de compromisso, continuar com isso agora afetaria a credibilidade do governo, já que todo mundo sabe que não vai acontecer.
Quando se fala em 1,1% ou 0,6% do PIB, a diferença parece irrelevante. Bem, trata-se de uma redução de mais de 45% da meta. Quando se transforma isso em grana propriamente, os R$ 66,3 bilhões que o governo pretendia economizar se transformam em R$ 36,16 bilhões. Sim, leitor, você pode se perguntar que diabo de negócio é esse em que, num prazo de três meses, as contas são refeitas com uma diferença de mais de R$ 30 bilhões. É a administração pública brasileira.
Até maio, na medição de 12 meses, em vez de superávit, o País tinha era déficit primário: havia saltado de 0,46% no fim de 2014 para 0,76%. No acumulado até abril, no entanto, o superávit havia chegado a R$ 32,448 bilhões. Ocorre que o governo tradicionalmente gasta bem mais no segundo semestre do que no primeiro.
Bem, já que Levy terá de arrumar um discurso para se explicar ao mercado, convém já rever as metas de 2016 e 2017, não é? Afinal, o governo prometeu uma economia de 1,2% do PIB no ano que vem e de 2% em 2017. Bem, também isso não vai acontecer. Por Reinaldo Azevedo

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