sábado, 18 de julho de 2015

Aplaudam, tolos! Dilma marcou um gol de barriga num cruzamento feito por Janot. Ou: Por que não um Comitê de Salvação Pública???

Ah, sim, meus caros! É claro que, a esta altura, deve haver gente sonhando, sei lá, com algo parecido com um “Comitê de Salvação Pública”, né? Tudo bem! Desde que eu seja o Marat, eu topo — só abro mão das perebas e de ser assassinado…  Então tá. Então vamos pegar Dilma, Temer, Renan, Cunha, o TCU, o STF, o TSE… E vamos para a glória. Sugiro que o tal comitê seja formado pela força-tarefa da Lava Jato, o que lhes parece?

Não é, obviamente, assim que a música toca. As pessoas podem não ser sempre racionais, mas os atos políticos obedecem a uma racionalidade. É evidente que, de saída, Cunha fica mais fraco do que estava antes. Quão mais fraco e como isso se traduzirá em números, é o que vamos ver. É claro que a esquerda e os petistas não estão vibrando à-toa. A excitação que se nota na turma tem razão de ser.
Qual será o próximo passo? Por enquanto, Cunha, a exemplo das demais personagens atingidas pela Lava-Jato, é alvo apenas de inquérito. O próximo passo é Janot decidir se oferece ou não denúncia contra ele ao Supremo. Se aceita, a situação se complica um pouco.
O PMDB não o acompanhará no rompimento com o governo, e a oposição deve guardar uma distância regulamentar, à espera dos próximos passos.
TORCER PARA QUE TUDO VÁ À BRECA EM NOME DA SUPOSTA MORALIDADE PÚBLICA CORRESPONDE A TORNCER PARA QUE DILMA SE TORNE A ÂNCORA POSSÍVEL DA ESTABILIDADE POSSÍVEL.
Alguns leitores do blog e ouvintes dos Pingos nos Is inferem que, agora, o impeachment ficou mais perto. É evidente que não! Ao contrário: pouco importa o ponto em que estivesse, essa possibilidade ficou mais longe. Ou vocês acham que a denúncia ajuda o deputado a granjear mais apoios? É certo que haverá defecções — ainda que ele continue forte.
As esquerdas, reiteradamente derrotadas por ele, vão tentar botar as manguinhas de fora. Quanto tempo vocês acham que vai demorar para o PSOL denunciá-lo ao Conselho de Ética?
Fez bem ou fez mal?
Há uma disputa no mercado de ideias apara cravar se Cunha fez bem ou fez mal ao reagir com tanta dureza. Entendo que fez bem. Denunciou a natureza do jogo.
Caso tivesse sido manso, os desdobramentos poderiam ser outros? A resposta é “não”, porque o que está em curso é um ponto numa trajetória, que começou quando o procurador-geral da República o incluiu na lista dos investigados, certo?, mas preservou a presidente da República com uma desculpa esfarrapada.
Tivesse preservado a fleuma, seria diferente? Não! Não havia encontro de petistas ou, mais genericamente, de esquerdistas, em que Cunha não fosse o alvo principal. Por causa das suspeitas relativas à Lava Jato? Não! Fosse assim, o PT hostilizaria João Vaccari Neto. Petistas e esquerdistas querem quebrar as suas pernas porque ele rejeita a agenda das minorias militantes e barulhentas.
Mas pode ser culpado?
Mas Cunha pode ser culpado? Sim, é claro que pode! Mas é por isso que ele estava na mira do Palácio? Se Dilma se incomodasse tanto com isso, teria Edinho Silva como ministro da Comunicação Social?
Se o deputado tem culpa no cartório, tem de pagar. Ainda que isso venha a ficar provado, não deixarei de lamentar. Ele resgatou a independência da Câmara, que havia se tornado um quintal do Poder Executivo. E, a meu ver, tem a agenda do Brasil contemporâneo, não a das minorias militantes, que nos empurram para as cavernas.
Jamais defenderia que Cunha fosse intocável porque gosto de sua agenda. Mas lamento, sim, o que está em curso porque não deixa de ser um tento que marcam as esquerdas, o PT e o governo Dilma — independentemente da justeza ou não da acusação.
Quem estudou um tantinho de política sabe que não existe vácuo no poder. Por enquanto ao menos, foi Dilma quem marcou um gol de barriga, num cruzamento feito por Rodrigo Janot. Por Reinaldo Azevedo

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