segunda-feira, 20 de julho de 2015

Como? Miro quer a cabeça de Cunha, mas confessa ter sido voto vencido na reunião que optou pelo mensalão? Ou: Terá ele assistido ao gesto inaugural de um crime de responsabilidade praticado por Lula e ficado calado?

Ai, ai… O Brasil, sem dúvida, é do balacobaco. O deputado Miro Teixeira (Pros-RJ) concede uma entrevista à Folha desta segunda. Governista, mas com alguns votos independentes (mas isso há até no PT), diz não ver motivos para que se apresente uma denúncia por crime de responsabilidade contra Dilma. Defende, no entanto, e a presidente não ficará triste com ele, nada menos do que a renúncia (!) de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Não! Ele não se refere à presidência da Câmara, não! Ele acha que é para renunciar ao mandato mesmo. Presumo que Cunha não seguirá o seu conselho. De um governista, espero governiches… O que me deixou chocado ao ler a entrevista foi outra coisa. Já chego lá. Uma informação técnica: mesmo que Rodrigo Janot ofereça uma denúncia contra Cunha e mesmo que ela venha a ser aceita pelo Supremo, o deputado não precisa abrir mão da presidência da Câmara por força de lei. Não custa lembrar: na condição de réu do mensalão, o PT fez de João Paulo Cunha, condenado depois pelo Supremo, nada menos do que presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Se Miro reclamou, não me lembro. Cunha, o Eduardo, só perde o mandato se for condenado pelo tribunal. O que me deixou chocado na entrevista de Miro Teixeira, no entanto, foi outra coisa. Ele confessa que, na condição de ministro de estado — e ele foi ministro das Comunicações do primeiro mandato de Lula —, acompanhou o que parece ter sido a origem do mensalão. Segundo dá a entender, e dá!, Lula estava presente à reunião em que aquilo foi decidido, já em janeiro de 2003. Afirmou: “Janeiro de 2003 foi um mês de debates, de como fazer maioria no Congresso. Houve uma reunião em janeiro. Havia quem dissesse que a maioria poderia ser em torno de projetos. E havia quem dissesse que ‘aquele Congresso burguês’ poderia ter uma maioria organizada por orçamentos. Essa tendência dos que quiseram organizar pelo orçamento foi vitoriosa.” Li e reli o trecho. Num primeiro momento, pensei se tratar das emendas de parlamentares, mas não é isso, não! O contexto deixa claro que “orçamento” quer dizer dinheiro mesmo, compra de parlamentares. É o mensalão! Havia quatro pessoas na reunião, diz Miro. Ele e Antonio Palocci, ministro da Fazenda, foram contra a “posição orçamentária”, mas prevaleceu a opinião das duas outras pessoas. Indagado se uma delas era Lula, ele responde: “Não se devem citar nomes. A revelação que posso fazer é essa”. Ou seja, era Lula. Até porque, né?, num placar de dois a favor da compra de parlamentares e dois contra — e um dos que eram contra era o poderoso Palocci —, a gente só pode supor que a outra dupla era formada por Lula e José Dirceu, chefe da Casa Civil então. Eu estou enganado ou o moralista Miro Teixeira, que está a pedir a autoimolação de Cunha, está confessando que participou da reunião que decidiu o nascedouro do mensalão, mas, mesmo assim, permaneceu no governo? Bem, parece que Miro assistiu à prática de um crime de responsabilidade, devidamente caracterizado na Lei 1.079. E se calou. Não custa lembrar: o mensalão era crime e levou a cúpula petista para a cadeia. Ah, sim: naquele caso também, os companheiros gritaram “golpe!” Por Reinaldo Azevedo

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