sexta-feira, 10 de julho de 2015

Deputado do PT e lobista viajaram nos mesmos voos para Miami, segundo a Polícia Federal

A Polícia Federal apontou, em inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal como desdobramento da Operação Lava Jato, que o deputado federal Vander Loubet (PT-MS) e o lobista Jorge Luz, suspeito de pagar propina ao ex-deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP) por um negócio fechado com a Petrobras, viajaram duas vezes no mesmo avião em duas viagens internacionais para o mesmo destino. Os dados constam de pedido de prorrogação do inquérito feito pela Policia Federal nesta semana ao ministro do STF, Teori Zavascki. Sobrinho do ex-governador e hoje deputado federal Zeca do PT, Vander Loubet, 51, é um dos principais nomes do PT de Mato Grosso do Sul, ao qual se filiou em 1984. Jorge Luz foi citado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, como a pessoa responsável por emplacar a contratação, pela Petrobras, de uma empresa norte-americana especializada em fabricação de asfalto chamada Sargent Marine. De acordo com Costa, ele ouviu depois do próprio Luz, a quem descreveu como "lobista com atuação na Petrobras há muitos anos", que o contrato lhe rendeu uma comissão e soube "pelo próprio Jorge Luz que este teria dividido a comissão com o deputado Vaccarezza". Ele tomou conhecimento novamente do repasse "em uma outra reunião na casa de Luz, na qual conheceu pessoalmente Vaccarezza, quando ficou sabendo que Jorge teria repassado R$ 400 mil ao referido parlamentar". De acordo com Costa, Jorge Luz "é muito próximo ao PMDB, especificamente ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e ao deputado Jader Barbalho (PMDB-PA)". No pedido de abertura do inquérito feito ao STF em março, a Procuradoria-Geral da República afirmou que "não se pode entender as atividades de Cândido Vaccarezza sem as atividades desenvolvidas por Vander Luís dos Santos Loubet, nem as deste sem as daquele".


Loubet e Vaccarezza, segundo a PGR, aparecem "também vinculados à denominada Máfia do Asfalto. Na base dos fatos investigados estaria a atuação da BR Distribuidora na venda de asfalto para prefeituras do interior de São Paulo". A chamada "máfia do asfalto" foi investigada pela Operação Fratelli, deflagrada pela Polícia Federal em 2013. As viagens de Loubet e Luz no mesmo vôo ocorreram nos dias 27 de dezembro de 2010 e 23 de agosto de 2011 para Miami (EUA). A PF também localizou duas viagens Loubet e Vaccarezza no mesmo vôo –uma para Buenos Aires, na Argentina, em 8 de abril de 2011, e outra para Miami, em 11 de novembro de 2011. A intenção da Polícia Federal, ao rastrear os vôos internacionais, era documentar eventuais laços entre os três investigados. No depoimento prestado em delação premiada, Paulo Roberto Costa primeiro disse acreditar que Loubet participou de uma reunião na casa de Jorge Luz e Vaccarezza. Logo em seguida, porém, Costa disse não ter certeza da presença de Loubet na reunião, mas lembrou-se que o encontro "era para tratar de repasses para campanha eleitoral de Vaccarezza". Os depoimentos de outro delator da Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef, lançaram novas luzes na suposta relação de Loubet e Vaccarezza com o esquema montado na Petrobras. Youssef contou que a pedido do empresário e ex-ministro Pedro Paulo Leoni Ramos, ex-chefe da área de inteligência do Palácio do Planalto no governo Fernando Collor (1990-1992), fez entregas de dinheiro a um "emissário" do deputado Vander Loubet, o advogado de Campo Grande (MS), Ademar Chagas da Cruz. O dinheiro foi entregue entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014, segundo Youssef. De acordo com o delator, o dinheiro foi recebido por Ademar em visitas à sede de uma empresa controlada pelo doleiro, a GFD. Ele não soube dizer o motivo pelo qual Leoni Ramos mandou entregar os recursos. O doleiro também contou que, a pedido de Paulo Roberto Costa, entregou dinheiro em espécie para Vaccarezza "por três ou quatro vezes, sendo cada entrega de R$ 150 mil". Youssef disse que fez as entregas pessoalmente na casa de Vaccarezza no bairro da Mooca, em São Paulo, mas não soube dizer em que época. Além das viagens coincidentes entre Luz e Loubet e este e Vaccarezza, a Polícia Federal também informou ao ministro Teori Zavascki que vinha encontrando dificuldades, pelo menos até o último dia 23 de junho, para ouvir o advogado Cruz e outra pessoa referida nas investigações, Fabiane Karina Miranda Avanci. Segundo a Policia Federal, os depoimentos de ambos ainda não foram tomados "em razão da dificuldade de colaboração de parte dos investigados, os quais não tem dado retorno às tentativas de agendamento de suas respectivas oitivas". A Polícia Federal de Brasília acionou a superintendência de Mato Grosso do Sul para agendamento dos depoimentos. O delegado encarregado do caso em Brasília também informou ao STF que iria a Campo Grande no início de julho para resolver o impasse e tentar localizar Cruz e Fabiane.

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