segunda-feira, 20 de julho de 2015

Eduardo Cunha diz não estar com "fuzil de guerra"


Depois de romper com o governo, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), adotou tom mais ameno e até falou em "harmonia" entre os Poderes da República. Apesar do discurso, o peemedebista já autorizou a criação de duas CPIs incômodas e se debruça sobre o rumo que dará aos pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Ele também protocolou no Supremo Tribunal Federal uma reclamação contra o juiz responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, Sergio Moro, e pediu que o processo no qual foi citado como beneficiário de propina seja remetido ao Supremo. Ao chegar na Câmara nesta segunda-feira, Cunha disse que a mudança da militância e do alinhamento político não interferem no comando da Casa. "Será o que estava sendo feito até hoje: a independência de poderes com harmonia. Não precisa estender bandeira branca porque eu não estou de fuzil de guerra. Apenas estou em alinhamento político diferente do que eu estava antes", afirmou. A declaração do peemedebista é uma resposta ao líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE). O petista reuniu-se nesta manhã por mais de duas horas com o conselho político de Dilma e disse que apesar dos ataques, a ordem é não bater de frente com o peemedebista. "Nós vamos começar o segundo semestre estendendo a bandeira da paz. Nesses momentos de tensão, sempre é bom estender a bandeira branca", afirmou. "Nós temos de construir uma agenda nacional. A Câmara não pode ficar nesse mata-mata, nesse zero a zero entre oposição e governo e, agora, com o presidente. Nós vamos ter uma relação proativa e eu vou discutir e dialogar o que é melhor para o país, independentemente de uma divergência pessoal", continuou. Assim como deu declarações mais brandas sobre o governo, o presidente da Câmara também evitou criticar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a quem ele acusou de comandar uma investigação "seletiva" na Operação Lava Jato - da qual é um dos alvos. Questionado sobre declaração de Janot, de que "investiga fatos, jamais instituições", Eduardo Cunha evitou tecer novos comentários. Cunha tenta suspender a ação penal na qual foi citado por Júlio Camargo, um dos delatores da Lava Jato. A questão será decidida pelo presidente do STF, Ricardo Lewandowski, responsável pelas deliberações no recesso na Corte. Na semana passada, Camargo, ex-consultor da empresa Toyo Setal, disse, em depoimento a Sergio Moro, Cunha pediu 5 milhões de dólares de propina para que um contrato de navios-sonda da Petrobras fosse viabilizado. Os advogados pediram a suspensão do processo por entender que cabe ao Supremo presidir o inquérito, em função da citação do presidente da Câmara, cujo cargo tem prorrogativa de foro privilegiado. Cunha já é investigado em um inquérito aberto no STF para apurar se apresentou requerimentos para investigar empresas que pararam de pagar propina nos contratos dos navios-sonda. Na ação em que Cunha foi citado, são réus o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, o doleiro Alberto Youssef, o empresário Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, acusado de arrecadar propina, e Júlio Camargo. "No quadro exposto nessa petição, é evidente a usurpação de competência do Supremo Tribunal Federal por parte do Juízo reclamado ao proceder investigações em face do reclamante, a demandar urgente adoção de providências por essa egrégia Suprema Corte", argumentou a defesa. Após a divulgação do depoimento, Cunha voltou a negar que tenha recebido propina de Júlio Camargo. "Qualquer coisa que seja a versão que está sendo atribuída é mentira. É mais um fato falso, até porque esse delator (Camargo), se ele está mentindo, desmentindo o que ele delatou, ele por si só já perde o direito à delação", disse na ocasião.

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