terça-feira, 21 de julho de 2015

"Só vale se for para mandar recados"

Em agosto de 2014, antes do início da campanha presidencial, a Folha de S. Paulo convidou Marcelo Odebrecht a dar uma entrevista sobre os gargalos na infraestrutura brasileira. As anotações do presidente da empreiteira mostram que Sergio Bourroul, diretor de Comunicação da empresa, lhe disse que só valia a pena se fosse para "mandar recados". Um recado foi dado claramente, como se pode ler abaixo. Foi a defesa da volta da Cide: 
Folha: Aumentar o preço dos combustíveis de uma vez pode ter impacto forte na inflação...
Marcelo Odebrecht: Para mim, o foco dessa discussão está errado. A Petrobras sempre trabalhou com defasagem de 10% a 15% no preço da gasolina. O que mudou é que a Petrobras passou a importar o produto, depois que o governo acabou com a Cide (o imposto sobre o combustível), em 2008.
A gasolina ficou barata e todo o mundo abandonou o etanol, que estava crescendo. Tudo o que a Petrobras está importando de gasolina agora era para ser suprido por etanol. Portanto, tem que voltar com a Cide para que o consumo volte para o etanol e a Petrobras pare de importar gasolina. Aí, a Petrobras se prepara para aumentar a produção de gasolina também.
Folha: O sr. não está defendendo isso porque a Odebrecht é grande produtora de etanol...
Marcelo Odebrecht: Também. Eu conheço isso de perto, estou sofrendo no etanol. Mas não é por isso que estou errado. Eu falo porque conheço o tema. E a volta da Cide traria R$ 10 bilhões a mais na arrecadação do governo. Pega essa receita e coloca na área de transporte.
Isso pode reduzir a tarifa do transporte público. Penaliza quem usa carro e beneficia quem usa ônibus. É também desinflacionário, porque o peso do transporte público na inflação é maior que o da gasolina. É um circulo virtuoso. Defendo isso porque acredito.
Recado dado e entendido: a Cide voltou a ser cobrada depois da posse de Dilma Rousseff.

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