quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Agora (só agora) comitê da FGV admite que o Brasil está em recessão econômica desde do segundo trimestre de 2014


O Brasil enfrenta uma recessão desde o segundo trimestre do ano passado, segundo cálculo do Comitê de Ciclos Econômicos, o Codace, grupo criado em 2008 pela Fundação Getulio Vargas para determinar os períodos de expansão e contração da economia do País. De acordo com o comitê, a atividade econômica está em queda, portanto, há pelo menos quatro trimestres. Mas, só agora, o tal comitê faz a revelação. Por que não apontou isso no ano passado, antes das eleições? Não há previsão sobre quanto tempo a recessão atual deve durar. Mas já se trata do ciclo recessivo mais duradouro vivido pelo País desde o início de 1999, quando a economia saiu de um período de contração econômica de cinco trimestres. "Todos os indicadores mostram que ainda estamos vivendo o processo recessivo e que devemos enfrentá-lo até pelo menos o final do ano", afirma Paulo Picchetti, professor da Escola de Economia de São Paulo da FGV e um dos sete membros do Comitê de Ciclos Econômicos. Na estimativa de instituições financeiras e analistas de mercado, o País fechará 2015 com retração de 1,8% no PIB e seguirá em recessão no primeiro trimestre de 2016. O comportamento do PIB é o principal sinalizador da atividade econômica. Quando ele recua por dois trimestres seguidos, muitos economistas dizem que um país entrou em "recessão técnica". No entanto, o Codace analisa um vasto número de indicadores para definir os períodos de recessão e expansão dos ciclos econômicos. O desempenho do PIB é somente um deles, embora tenha peso expressivo por ser o mais abrangente. O comitê leva também em consideração dados como a atividade industrial, a taxa de desemprego, as vendas no comércio varejista. Segundo o grupo, o método usado assemelha-se ao adotado pelo NBER, instituto privado dos Estados Unidos que é referência em cálculos sobre ciclos econômicos. Pelo modelo do Codace, o Brasil viveu nove períodos de recessão desde o primeiro trimestre de 1981, início da série histórica. A análise da série mostra que a duração dos períodos de recessão vinha diminuindo, enquanto a dos ciclo de bonança econômica expandia-se, uma consequência da estabilização monetária e financeira permitida pelo Plano Real e do cenário internacional mais favorável a partir do início dos anos 2000. Antes da crise econômica mundial, que eclodiu nos últimos meses de 2008, o país havia experimentado 21 trimestres consecutivos de expansão – um recorde na série a construída pelo grupo. Do segundo trimestre de 2009, quando o País saiu da crise, até o primeiro trimestre de 2014, foram outros 20 trimestres seguidos de economia em crescimento. Para Picchetti, o ciclo recessivo atual é reflexo das medidas tomadas pelo Brasil com o objetivo de acelerar a recuperação da sua última crise. Na ocasião, o governo incentivou o crédito e o consumo das famílias para estimular a demanda doméstica. Para o ex-presidente Lula, enquanto o mundo enfrentava uma tsunami, o Brasil lidava com uma "marolinha". "Nessa de sermos os primeiros a sair da crise, aparentemente você criou uma série de desequilíbrios, que estão cobrando a conta agora. Saímos pelo lado da demanda tanto do lado de política monetária quanto de política fiscal. E os desarranjos basicamente se mostraram incontornáveis após as eleições presidenciais do ano passado", diz Picchetti.

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