sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Empresas sofrem com a crise e dívidas atrasadas sobem 25%

A desaceleração da economia brasileira está fazendo a inadimplência das empresas crescer e o estoque de dívidas atrasadas dar um salto. Números do Banco Central mostram que o total dos chamados “créditos podres”, débitos bancários com atraso de mais de 90 dias, subiu de R$ 29,6 bilhões em junho de 2014 para R$ 37,1 bilhões em junho de 2015, último dado disponível. O avanço de 25,5% no período de 12 meses é considerado expressivo pelos especialistas, sobretudo quando se leva em conta que, no mesmo período, a oferta de crédito às empresas cresceu num ritmo bem menor, de 8,9%. Hoje, o estoque total de crédito às empresas é de R$1,63 trilhão. O aumento do calote faz os bancos pisarem no freio na hora de liberar empréstimos para pessoa jurídica. Já os investidores especializados em comprar títulos de dívidas vencidas, conhecidos popularmente como “fundos abutres”, vêem crescer as oportunidades neste mercado. O ganho desses investidores vem da recuperação destes papéis, que são comprados por valor muito abaixo da dívida real. É o que o mercado chama de desconto sobre o valor de face do título. Em pesquisa feita mês passado pelo Sindicato da Micro e Pequena Indústria de São Paulo com 300 empresários, 25% informaram ter deixado de pagar dívidas com bancos ou financeiras. Em junho, eram 14%. E 79% dos entrevistados responderam que a elevada carga de impostos causa dificuldades no desempenho da empresa. Diante desse quadro recessivo, a expectativa dos especialistas é que o estoque de “papéis podres” continue aumentando na carteira dos bancos. No final do ano passado, os créditos vencidos entre 60 e 360 dias chegaram a R$ 205 bilhões, de acordo com os números do Banco Central para empresas e pessoas físicas. O mercado calcula que outros R$ 300 bilhões estejam em circulação, já vendidos por bancos para limpar seus balanços, e sejam negociados por investidores interessados neste mercado. A diretora da área de reestruturação da KPMG, Márcia Yagui, lembra que, além da conjuntura ruim da economia, a Operação Lava-Jato também contribuiu para o crescimento do mercado de “créditos podres”. No primeiro trimestre deste ano, observa ela, construtoras investigadas, como a OAS, a Galvão Engenharia e o Grupo Schahin, entraram com pedido de recuperação judicial e as dívidas bancárias dessas construtoras também se transformaram em dívida vencida. De olho nas oportunidades de ganho com dívidas vencidas, a Jive captou R$ 500 milhões e lançou o fundo Jive Distressed, focado na compra e recuperação de créditos vencidos de empresas. O fundo é considerado de risco alto, e o investimento inicial era de R$ 1 milhão. No mercado, calcula-se que entre 30% e 40% dos créditos vencidos de empresas possam ser recuperados. "Nosso objetivo é oferecer um retorno superior ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI)", diz Diego Fonseca, responsável pela área de Produtos Estruturados do Private Banking da Credit Suisse Hedging-Griffo, que estruturou o fundo da Jive e fez a distribuição aos clientes. Dados da Receita Federal mostram que a arrecadação de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Sobre o Lucro Líquido (CSLL) caiu 9,1% em termos reais (descontado o IPCA) no primeiro semestre deste ano em relação a igual período de 2014. Foram R$ 10,1 bilhões a menos nos cofres públicos só com estes dois tributos.

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