quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Lava-Jato tem de contratar assessoria técnica para não correr o risco de premiar bandidos que merecem punição extra por mentir à Justiça

Pois é… O TCU anuncia uma coisa preocupante. Escandalosamente preocupante. Capaz de reordenar, a ser verdade e a de tomar como medida das coisas, o que se sabe do petrolão até aqui. A ser como diz o TCU, as próprias delações premiadas teriam de sofrer, vamos dizer assim, ao menos uma correção de valores. A que me refiro? O tribunal detectou um sobrepreço de 114% em obras nas unidades de coqueamento retardado da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, tocadas pela Camargo Corrêa. Este nome esquisito, leitor — “coqueamento retardado” —, indica uma das etapas de tratamento de resíduos do refino de petróleo. Se vocês quiser saber mais a respeito, clique aqui. No lote de preços analisados, o que deveria ter custado, segundo o tribunal, R$ 785 milhões acabou saindo por R$ 1,4 bilhão. O contrato total e seus 16 aditivos custaram R$ 3,6 bilhões. Abreu e Lima, como todos sabem, é uma evidência do desastre de administração, de planejamento, de ética, de vergonha na cara — e o que mais quiserem — que marcou a gestão petista. A obra, orçada inicialmente em US$ 2,5 bilhões, já custou mais de US$ 20 bilhões. Se o TCU estiver certo, a gente pode entender por quê. A fala do ministro Benjamin Zymler é eloquente e vai ao ponto: “Na Lava-Jato, é dito e repetido que as propinas corresponderam a 1%, 2%, 3% dos contratos. Estamos falando de 114%. Os números são muito maiores que esses absurdos números que nos causam perplexidade. Muito provavelmente, vão superar a casa de dezenas milhões de reais”. Sim, com alguma frequência, estamos tomando as palavras e as cifras reveladas por criminosos, tornados delatores premiados, como se fossem a última expressão da verdade. Só que pode não ser bem assim, não é mesmo? Vejam o conjunto da Abreu e Lima como exemplo. Se o TCU não cometeu nenhum erro grosseiro de conta, calculem a quanto chegou a roubalheira. Pois é… Um dos chefões no processo de construção de Abreu e Lima foi o delator premiadíssimo Paulo Roberto Costa. A informação original dos tais 1%, 2% ou 3% de sobrepreço, que depois virariam propina, é dele. Será isso mesmo? Embora ocupasse, tudo indica, na estrutura criminosa um papel muito mais importante do que Pedro Barusco — mero gerente — há uma gigantesca desproporção entre o que cada um desses dois bandidos premiados vai devolver aos cofres públicos: Costa, apenas R$ 70 milhões; Barusco, US$ 97 milhões. Vocês atentaram, não é?, para a diferença das moedas. Parece-me que a Operação Lava-Jato deveria contratar assessoria técnica para refazer algumas contas. Ou vai acabar premiando bandidos que merecem punição extra por mentir à Justiça em busca de benefícios. Por Reinaldo Azevedo

Nenhum comentário: