segunda-feira, 24 de agosto de 2015

TCU aponta que a Petrobras pagava o dobro por suas obras e serviços

Superfaturamentos sistêmicos podem chegar à metade daquilo que a Petrobras, a maior empresa do País, gastava com suas bilionárias obras e aquisições. O TCU não diz, mas é impossível que os presidentes da estatal, Sérgio Gabrielli e depois Graça Foster, até mesmo Lula e Dilma, sobretudo Dilma, que foi presidente do Conselho de Administração da Petrobrás, não soubessem de nada. Os primeiros indícios de investigações inéditas em andamento para analisar mais de R$ 30 bilhões em contratos da estatal nos últimos anos com as empresas envolvidas na Operação Lava Jato estão em curso. A primeira mostra dos absurdos valores que a estatal pagava a essas empresas causou choque entre ministros e auditores do Tribunal de Contas da União. O normal era desembolsar mais que o dobro do que custava. Em alguns casos, chegou a pagar 13.834% a mais. A análise foi feita em parte de um contrato de R$ 3,8 bilhões da estatal com um consórcio formado pelas empresas Camargo Corrêa e Cnec para a construção de uma das plantas da refinaria Abreu e Lima (PE). Quando fazia auditorias para apontar os preços elevados da Petrobras — o que vem ocorrendo desde 2007 — o TCU usava como parâmetro preços de referência do mercado. No caso dessa obra, o TCU já havia apontado indícios de preços elevados e sugeriu ao Congresso Nacional suspender a obra em 2010. O então presidente Lula vetou a medida e a obra seguiu. Em obras muito específicas, vários itens do contrato não têm preços de referência. Com a Lava Jato, o juiz Sérgio Moro permitiu que o tribunal tivesse acesso às notas fiscais do consórcio. Para esses itens onde não há referência, o TCU comparou o que a Petrobras pagou com o valor da nota fiscal do consórcio. É aí que as distorções são gigantescas. Uma tubulação pela qual a Petrobras pagou R$ 24,3 mil foi comprada por R$ 4,3 mil. Em 190 itens analisados, 185 tinham preços de nota inferiores ao que a Petrobras pagava. Auditores desconfiam que o cartel que atuava na empresa sabia que o tribunal não tinha como comparar os preços desses itens. Nos artigos em que era possível comparar preços, os custos reais da empresa são 6% inferiores às tabelas de preço. Nos que não se podia comparar, a média chegou a 114% a mais. Em alguns casos, contudo, as distorções apontam para indícios de crime. Ao licitar a obra, em 2010, a Petrobras aceitou pagar por um Compressor a Diesel (250 PCM) R$ 9.684,00 mensais. As notas do consórcio, contudo, apontam despesas de apenas R$ 70,00 por mês nesse equipamento. A diferença é tanta que levantou suspeitas de que esse pagamento era apenas uma forma de lavar dinheiro. A Petrobras informou que não comentará esta decisão do Tribunal de Contas da União. O consórcio das empresas Camargo Correia e Cnec informou que o contrato "foi firmado pela modalidade de contratação 'empreitada por preço global' e não 'empreitada por preço unitário'. Dessa forma, a análise deve considerar o preço global dos serviços e fornecimentos prestados e não itens isolados". O consórcio informa que ainda não tem conhecimento de todos os dados e não pode se manifestar no processo do TCU para "apresentar os esclarecimentos necessários" e que vai colaborar para o esclarecimento dos fatos. Ainda segundo a nota, a obra foi auditada durante seu andamento pela Petrobras e pelo TCU. "É fundamental considerar nesta análise o atraso no fornecimento de projetos finais e alterações de escopo, ambos de responsabilidade da contratante e que impactaram preços e prazos". Por enquanto, os auditores do TCU só conseguiram comparar preços de pouco mais de 35% do que a Petrobras pagou nesse contrato, cerca de R$ 1,5 bilhão. E já abriram processo para cobrar desvios de R$ 673 milhões.

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