quarta-feira, 23 de setembro de 2015

A equação política que está no poder é uma aberração. É por isso que não se vislumbram saídas


Qual é o problema do País? A esquizofrenia está no poder. E assim é porque um partido se assenhoreou do Estado e faz qualquer coisa, muito especialmente mentir, para lá permanecer. Duvido que o mundo tenha vivido experiência semelhante. Enquanto escrevo, o dólar passa dos R$ 4,00. A Moody’s anuncia que não está nos planos rever a nota do Brasil, mas fica claro que conta com a aprovação da CPMF – que, até agora ao menos, aprovada não será. O estresse se completa porque a equipe da terceira grande agência, a Fitch, chega para analisar os dados da economia do País. E o resto é incerteza. Muito bem! Dilma escalou para cuidar da economia um homem que simboliza tudo aquilo que o PT mais abomina e vai na contramão do bordel de promessas que venceu a eleição de 2014: Joaquim Levy. Ou a reeleita acenava com um nome com essas características, ou o país teria ido antes para a breca, já que, nem se haviam desligado as urnas, os brasileiros se deram conta, então, do grande engodo. Levy participou, nesta terça-feira, de um seminário realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) no Palácio do Itamaraty. Disse, ora veja, não haver “fórmulas mágicas para o crescimento”. Certo! Parte considerável do país sempre soube disso. Quem dava a impressão de que tirava coelho da cartola era Lula, era Guido Mantega, era Dilma Rousseff. O empresariado, ou boa parte dele, fingia acreditar. Quem conhecia um pouquinho do riscado sabia que aquilo terminaria no que aí está. Mas de que adiantaram todas as advertências? Na sua intervenção, Levy explicou que a agenda do desenvolvimento nem sempre é composta de medidas fáceis, de ganhos imediatos, o que também é de amplo conhecimento das pessoas intelectualmente honestas, e criticou o engessamento do Orçamento federal. Ocorre que toda a militância de um governo populista como o do PT se deu e se dá em favor justamente desse engessamento. Ao expor seu diagnóstico, Levy evidencia por que jamais poderia estar nesse governo caso se levassem em conta os princípios. Afirmou, segundo informa O Globo, sobre os gastos públicos: “Não apenas objetivos de gasto ou realização, mas também de objetivos finais. Por exemplo, não quero saber só quantos de hospitais eu abri, mas como é que melhoraram os indicadores de saúde da população. Ter essa realidade, essa verificação do que se gastou e o que obteve com o que se gastou é exatamente o que a gente precisa". Avaliação da qualidade de programas e gastos sociais é tudo aquilo que o PT sempre rejeitou porque isso vem a ser o contrário da máquina de distribuir benefícios e caçar votos, especialidade maior da companheirada. E Levy foi adiante, com palavras que remetem a um modelo racional de gastos públicos. Leiam: “(É preciso) usar os recursos de forma mais eficiente e não, todo ano, repetir a mesma coisa do que fez no ano anterior, tentando botar mais um pouquinho. É óbvio que nos dias de hoje essa não é a melhor estratégia para a gente ter um setor público eficiente, que caiba dentro do que a sociedade está disposta a financiar". Ah, entendi. Levy é o ministro da Fazenda de uma presidente do PT. O PT é aquele partido que se reuniu nesta segunda-feira, ontem mesmo, para descer o porrete justamente nesses pressupostos. Segundo Lula, Rui Falcão e outros iluminados, essas escolhas estão erradas, e o governo deveria começar a comer os ricos para regurgitar mais um pouco de caraminguás na boca dos pobres, a exemplo do que fazem certas aves com seus filhotes. Entenderam a natureza desse “esperando Godot” que vivemos? Nem o PT faz aquilo que realmente pensa nem Levy tem condições de fazer o necessário. Ficamos aqui, como estamos, caminhando em círculos. E isso nos conduz a situações até cômicas. O ministro que acabou de propor a CPMF para tapar os rombos produzidos pelas irresponsabilidades que aí estão comentou no tal seminário que é preciso diminuir o custo dos impostos para aumentar o investimento das empresas. Temos um governo com um discurso de esquerda, uma prática populista e um ministro que esboça um ideário liberal. No comando, uma presidente que literalmente não sabe o que pensa. As medidas para corrigir, de fato, os desarranjos que estão aí poriam em pé de guerra os ditos movimentos sociais do PT, que estão sendo convocados pelo partido a reagir às medidas de Levy. Mas também causariam a reação dos populistas, especialmente do Congresso. Sem ter para onde correr, o governo acusa a oposição de querer “o quanto pior, melhor”. Ou por outra: não conseguindo os votos necessários de esquerdistas e populistas que compõem a sua base, Dilma gostaria de contar com a anuência da oposição. Com sorte, ela chegaria ao fim do mandato para, depois, atacar a… oposição que a teria ajudado a governar!!! Lula fez isso nos dois primeiros mandatos. A economia permitia. Agora o cobertor ficou curto. Não sei se perceberam, mas o que acabo de expor é um roteiro que não tem desfecho virtuoso possível. A crise econômica se transformou numa crise política, vitaminada pela Lava-Jato, que degenerou em crise de confiança. Se Dilma não tivesse de sair por causa da questão legal, teria de deixar o poder para satisfazer a lógica. A verdade é que a composição política atualmente no poder é uma aberração. E cobra o seu preço. Por Reinaldo Azevedo

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