quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Delator diz que propina ao PT era combinada com Duque, que rebate: “Mentiroso!”

O lobista Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, executivo que trabalhou na empresa Toyo Setal e é um dos delatores da Operação Lava Jato, afirmou nesta quarta-feira à CPI da Petrobras que fez repasses de propina ao Partido dos Trabalhadores por meio de dinheiro desviado na estatal e a mando do ex-diretor de Serviços da petroleira, Renato Duque. Segundo o delator, as contribuições à legenda eram abatidas do saldo de propina devido à área de Serviços da companhia. No escândalo do petrolão, delatores afirmam que em contratos com a Petrobras eram desviados de 1% a 3% dos contratos para serem pagos como propinas a agentes públicos e políticos. “Parte dos valores a pedido de Duque, eu fiz enquanto doações oficiais ao PT e eram relativos ao dinheiro que tinha que dar a eles (a Duque e ao ex-gerente Pedro Barusco). O Renato Duque me pediu para fazer parte dos valores que deveriam ser repassados para eles como contribuições ao PT”, disse. Augusto Mendonça participou de acareação com Renato Duque e com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. O lobista manteve a versão de que Duque e o ex-gerente Pedro Barusco cobravam propina de contratos com a Petrobras, mas foi duramente atacado por Renato Duque, que classificou o delator como “mentiroso contumaz” e “mentiroso esquecido” por fazer ajustes no acordo de colaboração com a justiça. Nos últimos dias, Mendonça reajustou a versão que deu aos investigadores da Lava Jato e disse que parte da propina que havia creditado como da cota de Renato Duque na verdade seria dinheiro movimentado normalmente pela companhia dele. “Entre ele (Renato Duque) e o Pedro Barusco, as conversas aconteceram principalmente com Barusco, e uma boa parte (dos repasses de propina) era feita através de Mario Goes (operador do petrolão), que tinha uma empresa lá fora e onde eram feitos os depósitos”, disse. Segundo os delatores, parte da propina paga a Duque, de 12 milhões de reais, foi paga por meio da conta Drenos, no banco Cramer, da Suíça. Na acareação, Renato Duque negou que tenha determinado o pagamento de propina ao PT e provocou: “Se isso fosse verdade, daria diretamente. Se tivesse que tirar propina do meu bolso para dar ao PT, daria diretamente. Ele (Augusto Mendonça) não tem competência nem para fazer isso”. Sentado ao lado de Duque, o ex-tesoureiro petista João Vaccari permaneceu em silêncio na audiência da CPI. Ele conseguiu no Supremo Tribunal Federal (STF) um habeas corpus para ficar calado na acareação e não respondeu, por exemplo, se a propina ao PT era “contribuição ou pixuleco”. Segundo a versão do delator, ele esteve ao menos dez vezes com Vaccari para tratar de contribuições ao PT, sendo que o próprio ex-tesoureiro telefonava cobrando, caso houvesse atraso nas contribuições. Embora tenha se recusado a responder boa parte das perguntas formuladas pela CPI, o ex-diretor de Serviços apresentou uma contabilidade paralela para tentar comprovar que o delator estaria mentindo ao incriminá-lo. “Eu já li e reli o processo várias vezes e não bate. Ele (Augusto Mendonça) recebeu dinheiro do consórcio para repassar propina. E o que ele diz é ele fez contratos com (o lobista) Julio Camargo para repassar propina. Julio disse que repassou, mas o dinheiro sumiu. Dos 110 milhões (de reais que seriam propina), ele só mostra que repassou 33 milhões (de reais). O resto sumiu. Se tem alguém que está mentindo ou está roubando não sou eu. Estou dizendo que ele roubou. Não é opinião, é matemática. é pegar onde ele pegou o dinheiro e onde ele enfiou”, acusou Duque. Segundo o delator, um emissário da área de Serviços da Petrobras, identificado apenas como “Tigrão”, recebeu parte da propina em dinheiro vivo no escritório. Em outras ocasiões, dois outros prepostos receberam o suborno em nome de Duque e Barusco. Nos autos da Lava Jato, Augusto Mendonça descreveu Tigrão como um homem “entre 1,70m e 1,80m de altura e gordinho”. “Grande parte da população brasileira atende à descrição de 1,70m e 1,80m e gordinho. Poderia ser qualquer um dessa sala aqui”, rebateu Duque. Por Reinaldo Azevedo

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