terça-feira, 29 de setembro de 2015

PROVADO - Lula X9 fez lobby para Odebrecht quando estava na Presidência, conforme e-mail do ex-ministro Miguel Jorge


A análise das trocas de e-mails do empresário Marcelo Bahia Odebrecht e seus executivos revela a ligação estreita da maior empreiteira do País com Lula X9 (ele delatava companheiros para o Dops paulista, durante a ditadura militar, conforme Romeu Tuma Jr, em seu livro "Assassinato de reputações"), durante seus dois mandatos (2003-2006 e 2007-2010), assessores e ministros do petista e as tratativas para atuação do ex-presidente em defesa dos interesses da construtora em negócios dentro e fora do Brasil, segundo reportagem da Agência Estado. Em um e-mail, segundo avaliação da Polícia Federal, Marcelo Odebrecht e dois executivos da empreiteira, Marcos Wilson e Luiz Antonio Mameri, conversam com o então ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o jornalista Miguel Jorge. "Miguel Jorge afirma que esteve com os presidentes (do Brasil e da Namíbia) e que 'PR fez o lobby', provável referência ao presidente Lula", registra análise prévia feita pela Polícia Federal. Na época, o presidente do país africano era Hifikepunye Pohamba. Em 11 de fevereiro de 2009, Lula X9 o recebeu para um almoço no Itamaraty. O primeiro e-mail analisado da série é de 6 de fevereiro de 2009. Odebrecht e executivos do grupo falam do convite do presidente Lula X9 para almoço com o presidente da Namíbia. "Marcelo, o Presidente Lula está lhe fazendo um convite para participar de um almoço, com o Presidente da Namíbia, no dia 11/02 (quarta-feira), às 13h00, no Itamaraty, salão Brasília". No e-mail, o executivo informa: "Entendo que pode ser uma boa oportunidade função de nossa hidrelétrica. Seria importante eu enviar uma nota memória antes via Alexandrino com eventualmente algum pedido que Lula deve fazer por nós". Alexandrino Alencar, executivo ligado ao Grupo Odebrecht, o presidente da maior empreiteira do País, Marcelo Odebrecht, e outros três ex-dirigentes da companhia foram presos na Erga Omnes. Eles completaram 100 dias de cárcere no último domingo, 27. Eram 9h56 do dia 11 de fevereiro de 2009, quando Marcos Wilson, executivo da Odebrecht, escreveu para o ministro: "Miguel, se você estiver com o presidente Lula e o da Namíbia é importante que esteja informado sobre esta negociação e, se houver oportunidade manifestar sua confiança na capacidade desta multinacional brasileira chamada Odebrecht". O projeto em questão, descrito no e-mail, é o de uma hidrelétrica, a Binacional Baynes, que envolvia um consórcio brasileiro formado pela Odebrecht com a Engevix - duas empreiteiras acusadas de corrupção na Lava Jato - e as estatais Eletrobrás e Furnas, junto com a Namíbia e Angola. Investimento de US$ 800 milhões. Às 17h21, o então ministro respondeu ao executivo: "Estive e o PR fez o lobby. Aliás o PR da Namíbia é quem começou - disse que será licitação, mas que torce muito para que os brasileiros ganhem, o que é meio caminho andado". Para os investigadores, a sigla "PR" é uma referência ao presidente da República, usada em várias outras trocas de e-mails. A mensagem eletrônica foi depois copiada a Marcelo Odebrecht. Miguel Jorge é jornalista. Foi repórter do extinto Jornal da Tarde, do Grupo Estadão, no qual fez cobertura da área automobilística (assim como Luis Carlos Secco). Foi depois diretor de Redação de O Estado de S. Paulo. Saiu dali para ser diretor de Comunicação da Ford do Brasil. E a seguir da Autolatina. Terminou indicado pela indústria automobilística paulista para o primeiro ministério de Lula. A troca de e-mails do jornalista Miguel Jorge, então ministro do Desenvolvimento, no primeiro governo Lula, comprova à exaustão a tremenda promiscuidade e conivência entre o regime petralha e o chefão do petismo com o grande capitalismo nacional. Alexandrino Alencar, do Grupo Odebrecht, já era um operador de sua empresa junto a Lula e ao governo petista desde o seu início. Os capitalistas brasileiros sabiam, completamente, desde antes de Lula chegar à Presidência, que ele gostava tremendamente de "negócios". Os e-mails analisados pela Polícia Federal, resultado da abertura de computadores e caixas de mensagens recolhidos nas sedes da Odebrecht, alvo de buscas em 19 de junho, quando o empresário e outros cinco executivos do grupo foram presos pela Lava Jato, revelam o monitoramento e as "influências" diretas nas agendas do presidente Lula durante seu governo. São mensagens que começam em 2005 e seguem até o último ano de mandato do presidente Lula X9, em 2010, convites de almoço, pedidos de encontro e atuação do chefe da República em nome da empreiteira em países como Venezuela, Peru, Angola e dentro do próprio governo. Alexandrino, como se observa no corpos das mensagens era um dos principais canais da empreiteira com o governo Lula. No governo, um dos alvos é uma pessoa identificada como "Seminarista" nas trocas de mensagens, que para a Polícia Federal é o ex-chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. Em maio de 2005, por exemplo, a secretária de Odebrecht encaminha documento para Alexandrino Alencar - executivo preso pela Lava Jato. "Dr. Marcelo pede-lhe a gentileza de encaminhar ao Seminarista e informar que o encontro com o Presidente está previsto para amanhã às 10h30", informa. Em setembro de 2009, e-mail de Darci Luz encaminhou para funcionário da Odebrecht, mensagem trocada entre Marcelo Odebrecht e executivos do grupo "sobre investimentos e encontro com o Presidente do Peru, Alan Garcia, e eventual mensagem ou orientação por parte do presidente Lula". "Seria importante verificarmos com nosso amigo se existe alguma mensagem ou orientação por parte do Pres. Lula para minha conversa com Alan Garcia". Em outra mensagem aberta nos computadores apreendidos pela Lava Jato, Odebrecht encaminha e-mail para outros executivos, em outubro de 2007, e na conversa usa siglas e trata da agenda de Lula, que estava em visita a Angola. "Aparentemente, os executivos da Odebrecht mantêm contatos com autoridades da embaixada a fim de colocar em pauta, no encontro, assuntos de interesse da construtora", registra análise da Polícia Federal. Com o título "Agenda Lula - URGENTE", há citação a contatos no Itamaraty e o pedido para inclusão de Emílio Odebrecht - pai de Marcelo - em agenda do presidente "Rubio já fez os primeiros contatos junto ao Ita e me informou que é tradição: cabe ao anfitrião a escolha dos 20 convidados". Na visita, nos dias 17 e 18 de outubro, o empresário monitora a agenda do presidente Lula, lembra que da última vez o pai, Emílio, foi um dos convidados e reitera o pedido para incluir representante da empresa no evento: "Importante incluir Emílio no almoço. Novamente, segundo o Embaixador, é lado daí quem decide". No mesmo ano de 2007, Odebrecht recorre ao "Seminarista" para resolver um problema da empreiteira com um dos ministros do governo Lula. Marcelo pede a Alexandrino que acione o "seminarista" para tratar de um leilão em que a empresa participava e questiona a postura do então ministro de Minas e Energia, Nelson Hubner: "Alex, O Hubner está querendo jogar o PR ainda mais contra nós. Importante você fazer esta mensagem chegar no seminarista ainda hoje". Para a Polícia Federal, a sigla "PR" é referência ao presidente e "seminarista", o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. Os documentos analisados pela Polícia Federal foram anexados na última sexta-feira, 25, aos autos da Lava Jato pelo delegado Eduardo da Silva Mauat. São uma pequena parte dos 392.842 mensagens abertas, sendo que nesse levantamento foram analisados grupos específicos de mensagens de interesse. O ex-ministro Miguel Jorge escreveu o seguinte e-mail para a reportagem da Agência Estado: "Eu não me lembro desse episódio nem de como foi a reunião entre os dois presidentes, mas havia uma atuação institucional em favor de empresas brasileiras, sendo a Embraer uma espécie de cartão de visita da capacidade da indústria nacional. Em praticamente todas as viagens do presidente, havia reuniões com empresas, embora elas não viajassem com ele - mas, sempre, havia uma reunião pública e aberta, em que falavam o PR e ministros (das Relações Exteriores, ou do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, ou da Agricultura (nessas duas regiões, havia um enorme interesse pelo trabalho de pesquisa da Embrapa). Nas reuniões do PR com outros presidentes, das quais participei, não havia a presença de empresas. Durante meu tempo no Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, organizei mais de 10 missões comerciais, usando o Sucatão da Presidência, e cerca de mil empresas participaram dessas missões - empresas grandes, como Embraer, Sadia etc - e muitas médias e pequenas, que aliás, eram nossa prioridade". O ex-ministro petista Gilberto Carvalho negou ter recebido diretamente de Marcelo Odebrecht ou Alexandrino Alencar qualquer sugestão para discursos em agendas internacionais ou assuntos relativos à Odebrecht.

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