quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Um dos coordenadores do Movimento Brasil Livre sofre ataque homofóbico. Ou: Os interlocutores do MBL são o povo brasileiro e o futuro

Um rapaz chamado Allan dos Santos, descontente com uma postagem de Acácio Dorta — um dos coordenadores do Movimento Brasil Livre — publicou no Facebook um troço detestável, pleno de intolerância, preconceito e violência retórica gratuita. Reproduzo, caros leitores, e advirto que a coisa mergulha no baixo calão: “Acácio Dorta, o futuro Jean Wyllys. Debocha do prof. Olavo de Carvalho, é homossexual assumido, membro do [partido] NOVO, liberal, e acha que pelo fato de aguentar uma pica na bunda, assim tem o direito de esculachar os outros”. Não conheço Dorta. Não sei se é homossexual ou não. Se é, não creio que isso interfira em seus juízos políticos. Assim como não aceito que a homossexualidade seja considerada um traço distintivo positivo e gerador de direitos especiais — e sei o que me custa combater essa tendência —, repudio que a condição sexual desse ou daquele seja empregada para desqualificar. Isso não é de direita, isso não é de esquerda, isso não é libertário. Isso é apenas truculência, ignorância e discriminação. O MBL passou a ser atacado — e as pessoas têm o direito de pensar os que lhes der na telha; não seria eu a contestá-lo — depois que subscreveu a denúncia contra Dilma, junto com outros movimentos, encabeçado por Hélio Bicudo, um ex-petista — como se isso conspurcasse a sua pureza ideológica. O Vem Pra Rua, o MBL e outros movimentos fizeram as maiores manifestações políticas da história do país. E, mais de uma vez, exaltei aqui o clima de paz, de ordem e de tolerância que deu a tônica dos protestos. E espero que assim continuem, não cedendo a baixarias dessa natureza. Em nota, o Movimento Brasil Livre repudiou a publicação de Allan e se solidarizou com Dorta. “É um absurdo que ainda hoje tal postura retrógrada encontre apoiadores entusiasmados e militantes. Enquanto defensores das liberdades individuais, estaremos sempre do lado contrário de gente que acha que opção sexual é categoria de pensamento”. E noto que, não me refiro a esse ou àquele, nem opção é, mas condição que não depende de escolha. Combato com energia, clareza e determinação o tal “gayzismo”, a tentativa de grupos organizados de impor sua agenda, ao arrepio da sociedade. Tome-se como delírio dessa turma o esforço para impor nas escolas a chamada “ideologia de gênero”, uma estrovenga autoritária, que tem de ser combatida. Mas tem de ser combatida com luzes, não com obscurantismo; tem de ser combatida com tolerância, não com ainda mais intolerância; tem de ser combatida como iniciativa para submeter a sociedade a um gerenciamento que lhe é estranho, não com o ânimo de quem cria pechas. Não conheço Dorta, mas me solidarizo com ele. Ou será que, daqui a pouco, vão aparecer supostos “conservadores” para dizer que “não há veados de direita”, assim como Ahmadinejad, ex-presidente do Irã, e o aiatolá Khamenei asseguram que não existem homossexuais no Irã? Aliás, aqui e ali, parece que noto em supostos defensores do impeachment de Dilma certo receio de que, de fato, ela caia, não é? Parecem temer que este ou aquele grupos, de algum modo, acabem se dando bem… Não quero ser pessimista, não! Sou apenas realista. Aviso aos muito exaltados que, hoje, o mais provável ainda é que Dilma não caia. Não há despojos a disputar. Nem haverá ainda que o impedimento aconteça. Quem me conhece sabe que não aconselho. Apenas opino. E a minha opinião é que o Movimento Brasil Livre, o Vem Pra Rua e outros têm de ter claro que o seu interlocutor verdadeiro é o povo brasileiro. Não caiam na cilada de levar adiante uma briga de rinhas e tendências minoritárias, como aqueles embates encantadores entre o PSTU, PSOL e PCO para saber quem é mais obtuso e irrelevante. Opino que os adversários que interessam são os esquerdistas, é o Estado gigante, são as corporações que infelicitam os brasileiros. Achar que a condição sexual desse ou daquele qualifica suas opiniões ou sua obra é uma estupidez que costuma unir a extrema direita à extrema esquerda — e não estou qualificando Allan, que também não conheço, disso ou daquilo. Estou expondo a filiação de certas ideias. Que o Movimento Brasil Livre ganhe tempo, cuidando de coisas relevantes, e não ceda à tentação de perder tempo debatendo o sexo dos anjos ou dos indivíduos. Entre quatro paredes, não havendo crianças e não sendo sexo forçado, parece-me razoável que cada uma faça o que bem entender, não é mesmo? Ou alguém tem alguma tese diferente? Ah, sim: também acho que se devem excluir os bichos. Que coisa lamentável! Por Reinaldo Azevedo

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