segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A reforma ministerial afastou o impeachment? Romero Jucá responde

Será que a reforma ministerial comandada por Lula, com o auxílio de setores cooptados do PMDB, pôs fim ao debate sobre o impeachment e dá tranquilidade à subpresidente Dilma Rousseff — agora que ela terceirizou o governo e pôs a faixa no peito do Pixuleco? Vamos ver o que disse o senador Romero Jucá (PMDB-RR) em entrevista a Thaís Oyama, nas “Páginas Amarelas” de VEJA. Leiam trecho.
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Se há uma coisa que o senador Romero Jucá entende como ninguém é a quase sempre sinuosa relação que governos estabelecem com o Congresso (na política há quase trinta anos, conseguiu o feito de ser líder do governo Fernando Henrique, líder do governo Lula e, mais tarde, líder do governo Dilma). Nesse quesito, avalia, o atual governo merece nota mínima. Hoje um dos políticos mais influentes do PMDB e mais próximos do vice-presidente Michel Temer, ele acha que o papel da sigla não pode ser “segurar a votação de um impeachment em troca de cargos”. Na economia, diz que o governo errou por ser ideológico e intervencionista e que terá pela frente dias ainda mais amargos. Já os seus serão doces. Na semana que vem, Jucá embarca para o exterior em viagem de lua de mel para comemorar seu terceiro casamento.

O PMDB vai anunciar o rompimento com o governo Dilma no congresso marcado para 15 de novembro?
Estamos discutindo, avaliando a situação. E estamos procurando ajudar o governo, a Agenda Brasil é um exemplo disso. Mas não podemos deixar de ser críticos. Não podemos deixar de dizer que o PMDB tem uma história que vai além do governo do PT e da presidente Dilma. O partido tem uma vida que vai além dessa aliança com o PT – uma aliança que já se esgotou. O PMDB tem de se preparar para o futuro. Não pode ficar preso a esse passado nem a este presente. Não pode ser sócio dos erros do governo porque a concepção desses erros não foi nossa. O PMDB vai ter de ter coragem de decidir.

Mas o partido parece que nunca esteve tão dentro do governo, dado que será o principal beneficiário da reforma ministerial.
O governo decidiu falar direto com as bancadas. O que ele fez foi negociar com elas e ampliar o número de suítes do Titanic. Mas, para nós, do comando do PMDB, a discussão não tinha de ser em torno do número de suítes, tinha de ser para mudar a rota do navio. E o governo mais uma vez deixou de atuar nessa direção. Mostrou estar completamente fora de sintonia com a realidade política das ruas brasileiras. Tudo o que o povo não quer ouvir falar é em negociação de cargos, distribuição de emendas – tudo o que não resolve estruturalmente a relação política.

Mas essas são praticas comumente associadas ao PMDB.
Ocorre que nós estamos vivendo uma crise de representatividade política e de relação com a sociedade. Os partidos e os políticos que não entenderem isso estarão fora do jogo. Esse modelo do toma lá da cá se esgotou. O partido que não estiver sintonizado com o que a sociedade espera vai virar um dinossauro e perecer. Nós vamos ter em 2018 uma eleição completamente diferente.

Por quê?
Porque o eleitor amadureceu e não aceita mais essa política de ficar em cima do muro, a política da embromação, de fazer o jogo pra lá e pra cá. Está muito mais seletivo. O cenário também vai mudar em relação ao número de candidatos a presidente. Se houver essa mudança de governo, teremos muitos partidos fazendo parte do que será uma ampla base para levar adiante esse período de transição. E dessa base poderão sair muitos nomes novos. Agora, se não houver essa mudança, e a presidente ficar sangrando até 2018, devemos ter um ou dois opositores.

O que definirá qual dos dois cenários se tornará realidade?
A forma como o governo se conduzir. O brasileiro já mostrou que aceita duas hipóteses: um governo novo – e isso significa que a presidente Dilma teria de realinhar o seu eixo político – ou um novo governo – nesse caso, sem a presidente Dilma. Uma dessas duas coisas tem de acontecer.

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