sábado, 17 de outubro de 2015

Cunha não pode mais fazer nada por si mesmo, mas ainda pode fazer pelo país: acolher a denúncia contra Dilma

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deve saber que não tem salvação. Se não for cassado pelos seus colegas, perderá o mandato porque condenado pelo STF. Se não der tempo de ser condenado neste, será no próximo se for reeleito. 
Sim. É tudo verdade:
– ele certamente não é o chefe do petrolão;
– ele já foi denunciado duas vezes, e os demais políticos, nenhuma:
– quando a investigação diz respeito a ele, tudo anda mais depressa;
– ele se transformou na figura mais importante de um esquema que era liderado pelo PT;
– e, obviamente, isso não faz sentido.
Mas não é menos verdade que as evidências contra ele são devastadoras. É preciso saber a hora em que as coisas não têm retorno. Se Cunha pode fazer por seu mandato (este ou o próximo), pode ainda prestar um favor ao País deixando que o Congresso decida o futuro do governo Dilma. Enquanto for presidente da Câmara, está nas suas mãos — e exclusivamente nas suas mãos — deferir ou não a denúncia que será apresentada pela oposição na terça-feira. O Supremo cassou, como se sabe, o direito que tinha — e, segundo o Regimento Interno da Câmara, tem — a oposição de recorrer. Lula se oferece para salvá-lo. Com os votos dos petistas, dos peemedebistas e de outros eventuais aliados, Cunha até pode se safar no Conselho de Ética e, eventualmente, em plenário, embora isso pareça a cada dia mais difícil.  Se a dinâmica dos fatos e da investigação vai escrever a sua biografia, que não seja ele o coveiro da possibilidade de Dilma responder por seus atos. Se alguém tem de enterrar essa possibilidade, que seja, então o Congresso — num primeiro momento, a Câmara. Cunha foi um bom presidente da Casa até aqui e livrou o País de diabólicos pesares, como a possibilidade de Dilma indicar mais cinco ministros do Supremo caso fique até 2018. Também ajudou a sepultar a absurda reforma política do PT, que Roberto Barroso tenta levar adiante no Supremo, na base do tapetão. Mas é preciso reconhecer o momento em que não dá mais. Ou as autoridades suíças estão mentindo, e os documentos que chegaram são todos falsos — não parece que seja o caso —, ou é o fim da linha, e a insistência em manter o atual status não só não o ajuda como faz mal ao País. Parece que esse jogo ele perdeu. Que não contribua para uma derrota do País e da democracia e permita que o Congresso avalie a obra de Dilma. E isso, por vontade de ministros do Supremo, só ele pode fazer. E só ele pode fazer não porque seja Eduardo Cunha, mas porque é o presidente da Câmara. Que Cunha acolha a denúncia contra Dilma e deixe que o Estado de Direito siga o seu curso. Por Reinaldo Azevedo

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