sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Ex-diretor e PP receberam R$ 357,9 milhões, diz Janot


Investigações da Lava-Jato apontam que o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e a cúpula do PP, receberam, entre 2006 e 2014, R$ 357,9 milhões de dinheiro desviado de contratos de empreiteiras com a estatal. Desse total, R$ 62,1 milhões eram guardados em um “caixa de propinas” administrado pelo doleiro Alberto Youssef. Um dos maiores beneficiados com o esquema de desvios foi o deputado Nelson Meurer (PP-PR). No mesmo período, ele recebeu R$ 29,7 milhões. A quantia foi dividida em 99 repasses de R$ 300 mil mensais. O detalhamento das operações está na denúncia apresentada nesta sexta-feira pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal contra Meurer. Ele é acusado de ter cometido corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Segundo a denúncia, Meurer também obteve, em 2010, “repasses extraordinários” para financiar sua campanha à reeleição na Câmara dos Deputados. Por meio de Youssef, foram entregues R$ 4 milhões ao deputado. Além disso, a construtora Queiroz Galvão transferiu R$ 500 mil a Meurer em dois repasses. Para a Procuradoria Geral da República, era “propina disfarçada de doação eleitoral oficial”. Os dois filhos do deputado, Nelson Meurer Junior e Cristiano Augusto Meurer, teriam contribuído para o recebimento do dinheiro — e, por isso, também foram denunciados por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Janot pede que os três devolvam aos cofres públicos R$ 357,9 milhões. E que paguem danos morais à União no mesmo valor, no mínimo. Tudo acrescido de juros e correção monetária. O procurador também pede a cassação de Meurer. Em nota divulgada nesta sexta-feira, o PP “reitera que não admite a prática de atos ilícitos e confia na Justiça para que os fatos sejam esclarecidos”. Segundo a denúncia, em troca do dinheiro, Meurer e a cúpula do PP trabalhavam politicamente para manter Paulo Roberto Costa no posto. As empreiteiras, por sua vez, concordavam em pagar a propina para garantir a continuidade do cartel de empresas interessadas em celebrar contratos irregulares com a Petrobras. “O montante consistia em propina oriunda do ‘caixa de vantagens indevidas’ administrado pelo doleiro Alberto Youssef em função do esquema de corrupção e lavagem de dinheiro estabelecido na Diretoria de Abastecimento da Petrobras, na época ocupada por Paulo Roberto Costa, por indicação do PP (com finalidade predeterminada de locupletação) o qual foi indevidamente mantido no cargo em decorrência do apoio e da sustentação política prestados pelo deputado federal Nelson Meurer, por intermédio da agremiação partidária em questão”, diz a denúncia. Meurer tinha várias estratégias para ocultar o dinheiro. Uma delas era receber grandes quantias em espécie. Ele também recebia dinheiro por meio do Posto da Torre, do doleiro Carlos Habib Chater, primeiro alvo da Operação Lava-Jato. O deputado também realizava depósitos em suas contas bancárias de valores menores, para se esquivar do rastreamento do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Meurer ainda declarava no Imposto de Renda alta quantia em espécie, para tentar conferir à propina o caráter de licitude. Meurer responde a inquérito no âmbito da Lava-Jato no STF desde março. Se o tribunal aceitar a denúncia, será aberta ação penal e o parlamentar passará à condição de réu. Em depoimentos à Polícia Federal, os deputados do PP negaram a acusação. Nessa fase das investigações, Meurer deverá ser citado para se manifestar sobre o caso. Em seguida, o relator do processo, ministro Teori Zavascki, vai elaborar um voto e apresentá-lo à Segunda Turma do STF para votação. Se a denúncia for rejeitada, o caso será arquivado. O deputado do PP é o quinto parlamentar denunciado ao STF na Lava-Jato. Estão no grupo também o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o senador Fernando Collor (PTB-AL). 

Nenhum comentário: