quarta-feira, 21 de outubro de 2015

José Dirceu pediu ajuda para financiar campanha de Erundina, diz FHC


Num das passagens mais surpreendentes do primeiro volume do livro "Diários da Presidência 1995-1996", que abrange seus dois primeiros anos no Palácio do Planalto, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso conta que o então deputado José Dirceu (PT-SP), hoje preso por suspeita de envolvimento no escândalo da Petrobras, lhe pediu ajuda para conseguir dinheiro para a campanha de segundo turno da então petista Luiza Erundina à prefeitura de São Paulo. Naquele ano, 1996, Erundina (hoje deputada pelo PSB-SP) tentava voltar ao governo paulistano numa disputa final com o malufista Celso Pitta (PP), que liderava as pesquisas. O tucano José Serra, hoje senador, era o preferido de FHC naquela eleição, mas não conseguiu passar para o segundo turno. Embora rivais, tucanos e petistas tinham um interesse eleitoral comum naquela época: evitar o fortalecimento do então prefeito de São Paulo, Paulo Maluf (PP), cotado para disputar a Presidência em 1998. O pedido do oposicionista Dirceu a FHC, segundo o ex-presidente, ocorreu após uma audiência, que também contou com a participação dos petistas José Eduardo Dutra (SE), líder do partido no Senado naquela época, e Sandra Starling (MG), líder na Câmara. O tucano relata que, na ocasião, eles tiveram uma "conversa boa" sobre reforma agrária. Dirceu chegou a concordar com ele, "de maneira enfática", na reclamação de que o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) estava "passando dos limites". Na saída do encontro, diz, Dirceu fez o pedido de socorro financeiro. FHC tratou do assunto com naturalidade. Concordou com Dirceu sobre a necessidade de frear Maluf, disse que o oposicionista do PT estava "numa conversa de pazes", mas não esclarece no livro se, depois, ajudou ou não ajudou Erundina com o dinheiro. Numa outra passagem, também de 1996, esse tipo de atuação fica mais evidente. FHC relata que recebeu um senador de Minas Gerais para falar sobre a candidatura de Paulino Cícero (PFL, atual DEM) à prefeitura de Belo Horizonte, empreitada que julgava inviável. O interlocutor, Francelino Pereira, pede então apoio e recursos para a campanha de Cícero. FHC diz que achava difícil para ele fazer isso, afirma que é "incompetente" nessa tarefa de arrecadar recursos, mas, no final, assume um compromisso: "Em todo caso, eu disse que falaria com um empresário para ver se ele poderia dar alguma ajuda", diz. O próprio FHC alerta que o tal empresário (não mencionado) provavelmente não iria dar dinheiro algum. E se der, diz no Diário, "será marginal". Assim como no episódio de Dirceu, FHC não esclarece se, no final, deu ou não deu a ajuda solicitada.

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