quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Lula discutiu contrato da Petrobras com amigo lobista, diz delator



Em depoimento de delação premiada, o lobista Fernando Soares, o Baiano, investigado na Operação Lava Jato, afirmou que o ex-presidente Lula participou de reuniões com um amigo lobista e um empresário sobre contratos da Petrobras, e prometeu "ajudar a dar mais velocidade" aos negócios. A reunião foi revelada pela TV Globo na semana passada e novos detalhes foram divulgados pelo jornal "O Estado de S. Paulo", na edição desta quarta-feira (21). No final da manhã, o depoimento de Baiano a respeito foi tornado público na Justiça Federal do Paraná. O lobista que acompanhou Lula na reunião, de acordo com Baiano, foi o pecuarista José Carlos Bumlai, que vem sendo acusado de envolvimento em suborno e de agir em nome do ex-presidente. O delator já acusou Bumlai de ter recebido R$ 2 milhões em propina, que seriam destinados a uma nora do ex-presidente Lula. Tanto o petista quanto o pecuarista negam peremptoriamente as acusações. O encontro com Lula para tratar de contratos da Petrobras antecedeu o pagamento dos R$ 2 milhões, segundo Baiano. A reunião teria ocorrido no final do primeiro semestre de 2011, na sede do Instituto Lula, em São Paulo. Participaram dela, segundo o delator, Lula, Bumlai e o presidente da Sete Brasil (parceria entre a Petrobras e sócios privados, que administra o aluguel de sondas para o pré-sal), João Carlos Ferraz. A conversa foi marcada durante as tratativas de Baiano e Bumlai para conseguirem um contrato de construção de navios-sonda com a Sete Brasil. Na época, Baiano atuava em nome da OSX, estaleiro de Eike Batista. O negócio, contudo, não prosperou. Em meio às negociações, Baiano pediu a Bumlai que tomasse "uma providência mais incisiva" para viabilizar o contrato, recorrendo a "um peso maior". Foi assim que o pecuarista procurou Lula e acertou a reunião entre ele e Ferraz. Lula foi "muito amável", segundo teria dito Ferraz a Baiano. O ex-presidente assumiu o compromisso de "ajudar a dar mais velocidade nos assuntos da Sete Brasil, para viabilizar uma consolidação mais rápida da indústria naval brasileira", de acordo com o termo de delação. Cerca de um mês depois, o ex-presidente teria participado ainda de outra reunião, no sindicato da indústria naval, segundo contou Ferraz a Baiano. O delator afirma que não esteve em nenhum dos encontros. Poucos meses depois, ocorreu o pagamento de R$ 2 milhões a Bumlai, que disse que precisava do dinheiro para pagar uma nora de Lula. A transação foi feita por transferência bancária, em favor da empresa São Fernando, de propriedade do pecuarista. A OSX, de acordo com Baiano, não tomou conhecimento do pagamento, feito por meio de uma subcontratada que o devia uma comissão. O delator ainda afirma que "não participou e nem sabe de irregularidades envolvendo empresas do grupo de Eike Batista". O Instituto Lula afirmou, em ocasiões anteriores, que o petista nunca autorizou Bumlai a pedir dinheiro em nome dele e negou que alguma nora tenha recebido favor de Baiano. Em nota, reiterou que Lula "nunca atuou como intermediário de empresas em contratos, antes, durante ou depois do seu governo". A defesa de José Carlos Bumlai tem dito que as acusações são um "disparate" e que o empresário "jamais deu um centavo" ao ex-presidente Lula ou a parentes dele. Segundo o advogado Arnaldo Malheiros Filho, os negócios privados de Bumlai "não se revestem da ilegalidade com que se procura incriminá-lo".

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