quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Odebrecht pedia desconto na propina, diz Youssef em novo depoimento



Em depoimento à Justiça Federal, o doleiro Alberto Youssef, um dos delatores da Operação Lava Jato, disse nesta quarta-feira (21) que os executivos da Odebrecht responsáveis pelo pagamento de propina tinham o hábito de "pedir desconto". "Sempre tinha uma encrenquinha com a Odebrecht. Pediam desconto, diziam que a obra tinha sido ganha no aperto, que não tinham condições de pagar", afirmou Youssef, em depoimento ao juiz Sergio Moro. Ele foi interrogado como réu na ação penal que julga os executivos da empreiteira, uma das maiores do País. O doleiro, porém, reafirmou que a empresa participava do esquema de corrupção na Petrobras. Segundo ele, o executivo Marcio Faria da Silva, preso na Lava Jato, era o responsável pelos pagamentos de propina. "Presenciei várias vezes reclamações do seu José (Janene, ex-deputado federal pelo PP, morto em 2010) referentes ao Marcio Faria", disse Youssef. Ele disse, por exemplo, que a propina relativa a um contrato da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, vencido por um consórcio integrado pela Odebrecht, diminuiu para menos da metade por causa dos pedidos de Faria. "O valor do comissionamento era para ser de R$ 45 milhões, e no final acabou sendo R$ 20 milhões", afirmou. Em relação ao presidente do grupo, Marcelo Bahia Odebrecht – também preso preventivamente na Lava Jato –, o doleiro afirmou que não conheceu o empresário e que jamais soube de algo que apontasse sua ingerência no pagamento de propinas. "Em nenhum momento foi mencionado que alguém tinha que pedir autorização a ele para que pudesse fazer pagamentos ou acordos", afirmou Youssef. Segundo ele, Marcio Faria tratava do assunto com "autonomia total". A empreiteira, de acordo com o doleiro, fazia os pagamentos em contas no exterior ou em dinheiro em espécie, entregue no seu escritório em São Paulo. Youssef apontou à Justiça uma conta específica, da offshore RFY Import & Export, como a mais utilizada pela Odebrecht para operacionalizar os pagamentos de propina no Exterior. A conta pertencia a Leonardo Meirelles, antigo sócio do doleiro. A Odebrecht nega taxativamente as acusações. Sua defesa já afirmou que seus executivos vêm sendo prejulgados, e que as provas colhidas pelo Ministério Público não demonstram o vínculo entre os diretores e as contas que teriam sido usadas para o pagamento de propina. A respeito do depoimento de Youssef, as defesas dos executivos afirmaram, em nota, que "se pronunciarão na Justiça".

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