quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Polícia Federal investiga empresa de pecuarista ligado a Lula

A Polícia Federal investiga se o empresário e pecuarista José Carlos Bumlai usou notas frias para receber propina de negócios vinculados à Petrobras. Bumlai é amigo do ex-presidente Lula e tinha livre acesso ao gabinete do ex-presidente no Palácio do Planalto. O lobista Fernando Soares, o Baiano, afirmou que foi depositado cerca de R$ 2 milhões na conta da empresa São Fernando, de aluguel de equipamentos, indicada por Bumlai para receber a suposta propina. A São Fernando, segundo ele, estaria em nome do empresário ou do filho dele. O depósito, segundo Baiano, foi feito por uma terceira empresa, que lhe devia dinheiro. Para justificar o pagamento, teria sido feito um contrato de locação de equipamentos com a emissão de nota fiscal fictícia.


O ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal, enviou para o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, trechos da delação premiada em que o lobista acusa o empresário José Carlos Bumlai de pedir propina de R$ 2 milhões em nome de uma das noras do ex-presidente Lula. De acordo com Baiano, o dinheiro foi pedido por Bumlai como antecipação do pagamento de propina da empresa OSX para uma das noras do ex-presidente. Inicialmente, o empresário teria lhe pedido R$ 3 milhões, mas o lobista disse que comprometeu-se em ajudar com R$ 2 milhões. Segundo Baiano, ele não pediu qualquer valor à OSX, pois não havia sido fechado nenhum negócio com a Sete Brasil. Ao pedir o dinheiro a Baiano, Bumlai afirmou que estaria sendo "pressionado" a resolver o problema da nora do ex-presidente Lula. O lobista afirmou que o pagamento teria sido feito por transferência bancária por uma das empresas contratadas para fazer o estaleiro da OSX ou da LLX, duas companhias de propriedade do empresário Eike Batista. A transferência teria ficado pouco abaixo de R$ 2 milhões. Baiano afirmou que procurou Bumlai para que ajudasse a intermediar negócios entre a OSX e a Sete Brasil porque sabia da proximidade dele com o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que havia indicado o então presidente da Sete Brasil, José Carlos Ferraz. Depois de dois encontros no escritório do empresário em São Paulo, Bumlai prometeu ajudar, e Baiano procurou a OSX e mencionou que seria cobrado 5% do valor de cada navio-sonda para intermediar o negócio. Na OSX, ele teria conversado com Luís Carneiro, então presidente da empresa. Hoje, Carneiro preside a Sete Brasil. Segundo Baiano, o percentual não ficou definido, mas era certo que a "comissão" seria divida entre Baiano e Bumlai. Segundo o lobista, a primeira reunião entre Carneiro e Ferraz, da Sete Brasil, teria ocorrido no primeiro semestre de 2011, depois de um sinal verde de Bumlai. Todo o desenrolar da negociação, disse Baiano, era repassado a Bumlai. Como o fechamento de um acordo demorou, Baiano teria dito a Bumlai que precisava de "um peso maior" para que fosse efetivado. Bumlai se encarregou, então, de agendar uma reunião de Ferraz com o ex-presidente Lula. Antes Ferraz e Bumlai se encontraram no restaurante Tatini, em São Paulo, onde o empresário orientou o presidente da Sete Brasil sobre "o que falar com Lula". Depois, Ferraz e Bumlai foram para o Instituto Lula. Baiano, que permaneceu em São Paulo para saber sobre o resultado do encontro, disse que Ferraz lhe contou que a reunião havia sido "muito boa". Segundo ele, Ferraz teria pedido apoio do ex-presidente para dar mais velocidade aos assuntos da Sete Brasil, "para viabilizar uma consolidação mais rápida da indústria naval brasileira". Ferraz contou que ficou marcado um segundo encontro no Instituto Lula, com a participação do ex-presidente e representantes do setor naval. Baiano disse que não participou de nenhum dos encontros com Lula e continuou acompanhando as negociações entre a OSX e a Sete Brasil. Foi então, segundo ele, que Bumlai lhe pediu o adiantamento do dinheiro para resolver o problema da nora do ex-presidente. Baiano disse ter perguntado detalhes, e Bumlai afirmou que o dinheiro pagaria uma dívida ou uma parcela de um imóvel. Inicialmente, Baiano disse que não poderia ajudar. Mas voltou a ser cobrado e se comprometeu a ajudar com os R$ 2 milhões. Embora o negócio entre a Sete Brasil e a OSX não tenha saído, segundo o lobista, Bumlai não lhe devolveu o valor que recebeu adiantado. 

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