sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Químicos de Cambridge podem ter criado uma superbateria revolucionária


Um grande avanço obtido pela Universidade de Cambridge no campo da eletroquímica poderia abrir caminho para superbaterias recarregáveis capazes de acumular cinco vezes mais energia em um dado espaço do que as melhores baterias atuais, o que ampliaria muito o alcance de veículos elétricos e poderia transformar o aspecto econômico da armazenagem de eletricidade. Clare Grey, professora de química da universidade, e sua equipe superaram diversos desafios técnicos para desenvolver baterias de lítio-ar — as únicas células teoricamente capazes de propiciar a veículos elétricos alcance igual ao de veículos a gasolina e diesel, sem que os primeiros precisem carregar pacotes de baterias volumosos e de alto peso. Se essa tecnologia puder ser conduzida do laboratório ao mercado comercial, ela permitiria que um carro viajasse de Londres a Edimburgo com apenas uma carga de bateria, e isso com baterias de peso e custo equivalente a apenas um quinto do das baterias de lítio-íon que propelem os carros elétricos atuais. "O que obtivemos foi um avanço significativo para essa tecnologia, o que sugere áreas inteiras para novas pesquisas", disse a professora Grey: "Ainda não resolvemos todos os problemas inerentes a essa química, mas nossos resultados mostram caminhos para avançar". Porque o lítio-ar tem tamanha vantagem teórica sobre o lítio-íon, que domina as atuais baterias recarregáveis — sua densidade energética pode ser até dez vezes maior —, pesquisadores do mundo inteiro estão trabalhando em seu desenvolvimento. Um estudo publicado pela revista "Science" mostra que o grupo de Cambridge superou alguns dos problemas práticos que a tecnologia enfrentava, especialmente uma instabilidade química que conduzia a uma rápida queda nas células de lítio-ar, em resultados demonstrados anteriormente. A química básica das baterias de lítio-ar é simples. A célula gera eletricidade ao combinar lítio e oxigênio para formar peróxido de lítio, e depois é recarregada pela aplicação de uma corrente para reverter a reação. Conseguir que essas reações aconteçam de maneira confiável ao longo de muitos ciclos é um desafio formidável. Os cientistas de Cambridge ajustaram a química de diversas maneiras a fim de torná-la mais controlável. Por exemplo, converteram o peróxido de lítio em hidróxido de lítio (um composto com o qual é mais fácil trabalhar), acrescentaram iodeto de lítio ao sistema e produziram um elétrodo muito poroso e "fofo" com grafeno, uma nova forma de carbono descoberta 12 anos atrás na Universidade de Manchester. O sistema demonstrado pelo laboratório de Cambridge é 90% eficiente, de acordo com os pesquisadores, e pode ser recarregado mais de duas mil vezes. Mas eles dizem que pelo menos mais uma década de trabalho será necessária para transformá-lo em bateria que possa ser usada comercialmente em carros e para armazenagem em rede - ou seja, a fim de armazenar a produção intermitente de painéis solares e turbinas eólicas para uso quando necessário. A pesquisa de Cambridge foi financiada pelo Conselho de Pesquisa de Engenharia e Ciências Físicas do Reino Unido, pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos e pela União Européia, com apoio da Johnson Matthey, companhia britânica produtora de materiais avançados. "Patenteamos a tecnologia e a propriedade intelectual ficou com a Cambridge Enterprise, a divisão de comercialização da universidade", disse a professora Grey. "Estamos trabalhando com diversas empresas para levar o trabalho adiante".

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