sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Depois daquela foto – A estranha conta quântica de Romário, aquela que é e não é ao mesmo tempo


Por Reinaldo Azevedo - É pouco comum que uma pessoa tenha que ir a um banco com o objetivo de constatar que a instituição “admitiu” ( ou seja, aceitou, consentiu, concordou) “nunca” ter tido vínculo com ela. Mas Romário não é obrigado a ter o rigor de um filólogo na escolha das palavras que utiliza. Porém, é esperado de um homem público, senador da República, que ele saiba a diferença entre as expressões “nunca tive” e “tive conta no BSI, mas só não sei o ano”. A questão da conta não declarada de Romário na Suíça foi levantada por VEJA em uma reportagem publicada em julho passado. Ilustrava a reportagem um documento descrito pela revista como um “extrato” da conta do senador no BSI. O senador, respaldado pelo próprio BSI, desclassificou a prova documental como “extrato falso”. Como a revista vem reafirmando desde que se desculpou com Romário pela publicação do extrato dado como falso por ele e o banco, seus repórteres continuam apurando o caso. A gravação em que Delcídio Amaral, senador preso pela Lava Jato , e seus interlocutores em Brasília falam sobre a existência da conta foi um motivo de incentivo para que os repórteres aprofundem a investigação do caso. Também foi muito estimulante para eles a mudança de posição de Romário de “nunca tive” para “tive conta no BSI, mas só não sei o ano”. São mais fortes, agora, as evidências de que — a despeito da veracidade do extrato ou “screen shot” publicado pela revista em julho — não é mais um disparate, como se fez crer antes, a existência na Suíça de conta e fundos não declarados por Romário. Romário, subitamente, se lembrou agora que teve, mas não se recorda se encerrou a conta. Ele disse que “acha” que , sem movimentação, a conta “fecha automaticamente”. A lembrança de que foi correntista do BSI ocorre em seguida à referência, em uma das conversas gravadas que enredaram o senador Delcídio Amaral na Operação Lava Jato, de que uma ajuda na escamoteação da conta estaria por trás de um acordo político entre o ex-jogador e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, para as eleições à prefeitura em 2016. No mesmo dia em que deu a entrevista confirmando que teve conta no BSI, Romário enviou ofício ao procurador geral, Rodrigo Janot, pedindo que apure junto ao Ministério Público suíço os fatos relativos à “suposta conta”. Nem precisava. A Procuradoria Geral da República já anunciou que vai apurar não só a “suposta conta”, mas “todos os fatos” relativos à história. VEJA, por seu lado, também continua empenhada na apuração profunda do episódio.

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