sábado, 7 de novembro de 2015

Estudo aponta que vento solar levou embora a atmosfera de Marte


Medições obtidas por uma espaçonave da Nasa mostram que a atmosfera de Marte está sendo constantemente varrida para o espaço pela interação com o fluxo de partículas emanadas do Sol. Os resultados foram publicados na revista científica "Science" e anunciados na quinta-feira (5) em uma entrevista coletiva promovida no quartel-general da Nasa, em Washington. Trata-se de uma parte fundamental do quebra-cabeça na dramática história evolutiva do planeta vermelho, que passou de um mundo com rios, lagos e oceanos, 4 bilhões de anos atrás, a um deserto árido e frio, no presente. A espaçonave foi lançada em novembro de 2013 e está desde setembro do ano passado investigando a interação da alta atmosfera marciana com o ambiente espacial ao seu redor. Em essência, as medidas permitiram mapear o fluxo de partículas da atmosfera para o espaço, formando uma cauda e uma pluma na direção oposta à do Sol. "Descobrimos que cerca de 100 gramas de atmosfera escapam de Marte a cada segundo", disse Dave Brain, da Universidade do Colorado em Boulder, um dos membros da equipe científica da Maven. "Não posso evitar pensar em hambúrgueres, um por segundo, escapando da atmosfera de Marte – mas nesse caso são de oxigênio e dióxido de carbono". Os pesquisadores também puderam estabelecer que essa é uma medida mínima. Durante tempestades solares, quando nossa estrela ejeta grandes quantidades de partículas carregadas na direção dos planetas, a taxa de perda atmosférica aumenta em 10 a 20 vezes. "Se isso continuar assim, Marte em tese poderia perder toda a sua atmosfera em mais um par de bilhões de anos", disse Bruce Jakosky, líder científico da missão Maven. "Mas não achamos que isso vá acontecer porque também há fontes de gás sob o solo e na forma de gelo, para reabastecer a atmosfera", afirma ele. Em compensação, sabe-se que as tempestades solares eram mais frequentes e intensas na época em que o Sol era jovem, o que ajuda a explicar como Marte perdeu atmosfera de forma muito mais radical no passado. Hoje, o ar de Marte tem menos de um centésimo da densidade vista na Terra. Com uma atmosfera tão rarefeita, é impossível reter o calor, e por isso o planeta vermelho se transformou no deserto gelado de hoje. Os pesquisadores esperam usar os dados da Maven para compreender melhor o que ocorreu no passado, mas evidências geológicas sugerem que essa transição do estado molhado para o seco aconteceu entre 4,2 bilhões e 3,7 bilhões de anos atrás. O processo teria coincidido com o desligamento do campo magnético global de Marte. No passado remoto, o interior do planeta vermelho tinha calor suficiente para a geração de uma magnetosfera robusta, como a que a Terra tem ainda hoje. Esse, aliás, é o mecanismo que protege nosso planeta de perder grandes quantidades de atmosfera para o espaço. Mas Marte, menor, perdeu essa capacidade cedo em sua história. Com o desligamento do campo magnético, o vento solar encontrava caminho desimpedido para se chocar com a atmosfera e levar à sua rápida erosão. A sonda também pôde monitorar a ocorrência de auroras em Marte. E o mais surpreendente é que elas aparecem em dois tipos: uma é similar às que acontecem na Terra, mas mais fraca e com a diferença de que não há um campo magnético global para guiá-las. Já a outra é ainda mais estranha, porque parece não envolver nem mesmo magnetismo em escala local, e é causada por elétrons de alta energia durante tempestades solares, que por sua vez conduzem à emissão de luz ultravioleta.

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