quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Hotel em Brasília onde petista foi preso foi palco de outros escândalos

Famoso por abrigar reuniões entre políticos, o hotel de luxo Royal Tulip, em Brasília, já foi pano de fundo dos dois maiores escândalos nacionais da história recente: o mensalão e os desvios na Petrobras. Localizado às margens do Lago Paranoá, o complexo, assinado pelo arquiteto Ruy Ohtake, fica próximo do Palácio da Alvorada e da Esplanada dos Ministérios. Foi lá que, em 2002, o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, deu uma festa de arromba para celebrar a passagem do Ano Novo ao lado de Lula, recém-eleito presidente da República, no que à época era o Hotel Blue Tree. Pouco depois, com o PT já no Planalto, foi ali que Delúbio Soares passou a encontrar o publicitário mineiro Marcos Valério, operador do esquema de compra de apoio no Congresso ao governo Lula. Segundo o Ministério Público Federal, esses encontros eram frequentes. Tanto Delúbio quanto Marcos Valério acabaram condenados pelo Supremo Tribunal Federal, em 2013, por participação no esquema – Valério ainda está na cadeia; Delúbio, após quase onze meses em regime semiaberto, está em prisão domiciliar desde setembro do ano passado. Passados quase dez anos desde a eclosão do escândalo do mensalão, em 2005, a Polícia Federal prendeu no Royal Tulip, na manhã desta quarta-feira (25), o líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS). Ele morava nesse hotel. No dia anterior (24), a Polícia Federal havia prendido outro personagem associado ao escândalo no hotel ao lado, administrado pelo mesmo grupo, o Golden Tulip. O pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, iria depor na CPI do BNDES, mas foi conduzido à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Bumlai, que já foi um dos maiores criadores de gado do País, entrou na mira dos investigadores por suspeitas de que teria ajudado a quitar dívidas de campanha do PT. Também alvo da Lava Jato, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já ocupou um apartamento no antigo Blue Tree, em 2003. A suspeita era de que as despesas teriam sido bancadas pelo empresário Lúcio Bolonha Funaro. Em 2005, quando o caso foi revelado na imprensa, ambos negaram irregularidades. Suspeitas parecidas também recaíram em 2007 sobre o senador Renan Calheiros (PMDB-AL). À época, as denúncias de que um lobista da empreiteira Mendes Júnior pagava contas pessoais do peemedebista, inclusive um flat no Royal Tulip, o levou a renunciar ao mesmo cargo que voltou a ocupar hoje: o de presidente do Senado. O caso é alvo de ação na Justiça. O Golden Tulip, que fica ao lado do Royal, também imortalizou uma cena que virou febre na internet. Foi no hotel brasiliense que a atriz Paolla Oliveira, da série da TV Globo "Felizes Para Sempre", gravou uma cena em que, na pele de uma garota de programa, aparece de costas para a câmera, usando só uma calcinha. O Supremo Tribunal Federal entendeu que Delcídio estava cometendo um crime em flagrante, de obstruir investigações em andamento sobre organização criminosa, e por isso autorizou sua prisão preventiva. A nota, assinada pelo advogado Maurício Silva Leite, desqualifica ainda o ex-diretor Nestor Cerveró, chamando-o de "delator já condenado". Para o advogado, o entendimento inicial da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal "será revisto".

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