sábado, 12 de dezembro de 2015

Bacia que alimenta o Cantareira tem só 12,6% de cobertura florestal



Uma das regiões mais ricas do Estado de São Paulo, a bacia PCJ é também uma das mais pobres em árvores. Da água dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí dependem 5,5 milhões de pessoas, mas elas contam com apenas 12,6% de florestas nativas. A estatística devastadora foi colhida em levantamento da organização não governamental SOS Mata Atlântica. A pesquisa com dados de satélite cobriu 70 municípios paulistas da bacia PCJ, num total de 14.178 quilômetros quadrados. Desses 5,5 milhões de habitantes, cerca de 3 milhões moram na décima maior região metropolitana do Brasil, a de Campinas. O PIB per capita nela é de R$ 48 mil, bem acima dos R$ 27 mil do país. Também sai desse manancial, por transposição, a água do sistema Cantareira, que abastece outros 5,3 milhões de habitantes da Grande São Paulo. Antes da crise hídrica, o sistema provia 9 milhões. A diferença é que, em torno das represas do Cantareira, 21,5% do terreno ainda é guarnecido por matas. A cobertura da bacia PCJ fica abaixo até do que restou de mata atlântica no Estado, 13,9%. Se as leis florestais fossem cumpridas, a parcela preservada deveria ficar por volta de 30%. Cidades como Valinhos (12,3% de vegetação nativa) e Saltinho (8%) precisaram recorrer ao racionamento de água. O rio Piracicaba tinha secado, perto de Paulínia (4,8%), há dois anos. Florestas como a mata atlântica funcionam como esponjas. Liberam lentamente a água da chuva e permitem sua infiltração no solo, recarregando o lençol freático. Cada quilômetro quadrado de mata conservada produz água o suficiente para abastecer 2.600 pessoas. Há 12 casos extremos entre os 70 municípios monitorados pela SOS, com menos de 5% de sua área dotada de vegetação nativa. A pior situação é a de Hortolândia: restou só 1,3% com árvores. O levantamento da SOS Mata Atlântica também mostrou que quase todos os rios da bacia PCJ carecem de florestas por perto. De 25.556 km de margens mapeadas, meros 6.155 km (24%) ostentam fragmentos de vegetação nativa maiores que 1 hectare (10 mil metros quadrados). Quem percorre os rios, contudo, pode ter impressão diferente. Boa parte das margens ostentam árvores. Muitas vezes, porém, elas estão em "fila indiana", como diz Malu Ribeiro, da SOS. Por essa razão, a ONG combina a análise da qualidade e da quantidade das águas com o grau de cobertura florestal em volta. E o trabalho vai além da PCJ -levantamentos foram feitos na região do Cantareira e nas bacias dos rios Paraíba do Sul (SP/RJ) e Guandu (RJ). No caso do Paraíba, a bacia conta com bem mais florestas que a PCJ: 26,4% da área tem vegetação natural. A situação do Guandu e seus afluentes é ainda melhor: 62,2% de conservação e 2.558 km (61,9%) de rios com áreas de mata próximas. O Estado do Rio de Janeiro, que depende muito dessas duas bacias, também enfrenta sua crise hídrica. Mas, pelo menos, está mais bem servido de florestas em torno delas. Nas águas em disputa pelas regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas, o equilíbrio entre matas e água é mais precário. "Após mais de 20 anos, o Piracicaba ainda é um rio recém-saído da UTI", lamenta Malu Ribeiro. "Nunca foi olhado como um manancial, só como um meio para diluir esgotos". Os levantamentos da ONG revelam, porém, que as últimas derrubadas de mais de três hectares na bacia PCJ pararam depois de 2008. Também fica claro, nas imagens de satélite, que as principais manchas contínuas de vegetação nativa se encontram em unidades de conservação. É o caso do Parque Estadual de Itapetininga, do Monumento Natural da Pedra Grande e das áreas de proteção ambiental (APAs) de Jundiaí e Cabreúva. "É mais um exemplo de como as unidades de conservação são importantes para deter o desmatamento de nossas florestas naturais", diz Márcia Hirota, diretora da SOS Mata Atlântica. O Jaguari nasce na serra da Mantiqueira, perto de Campos do Jordão (SP). O volume que não é desviado para a Grande SP segue para oeste e encontra o Atibaia em Americana para formar o Piracicaba, espinha dorsal da bacia PCJ. Preocupante ainda é a profundidade no meio do rio, que caiu de oito para quatro metros. Uma das causas para isso é o assoreamento dos rios, que tem muito a ver com desmate. Uma vez retirada a cobertura de árvores, muito mais água escorre pela superfície e retira a camada superior de terra -a mais fértil-, que chega aos corpos de água e se deposita no fundo. Calcula-se que o Brasil pode estar desperdiçando até R$ 30 bilhões por ano com perda de solos e assoreamento. 

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