quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Bandidos chavistas tentam reorganizar seus quadros às vésperas da posse do novo congresso oposicionista

Às vésperas de ceder lugar para a oposição, a Assembleia Nacional venezuelana chavista escolheu nesta quinta-feira (10) a juíza que condenou o opositor Leopoldo López a quase 14 anos de prisão como nova defensora-geral da República. A nomeação da ridícula Susana Barreiras para esta função, semelhante à do advogado-geral da União no Brasil, soa como desafio aos planos da oposição de votar uma lei de anistia para livrar das garras da ditadura comunista bolivariana o prisioneiro Leopoldo López e dezenas de outros antichavistas tão logo assuma o plenário, em 5 de janeiro. A ridícula Susana Barreiras foi aprovada por unanimidade pela bancada governista, que possui maioria simples no Parlamento unicameral. A juíza ficará no cargo por sete anos. É óbvio que ela precisará ser derrubada também deste cargo pelo novo Congresso, que terá força para isso. A oposição, que assumirá com maioria de dois terços graças à vitória arrasadora na eleição de domingo, votou contra a nomeação.
 

"Isto é uma ofensa. Esta doutora é profundamente questionada em matéria ética e moral", disse o deputado Hermes Garcia, numa referência às irregularidades no processo contra López. Um dos principais promotores do caso fugiu para os EUA em outubro e disse que López foi sentenciado com provas forjadas e que a acusação de incitação à violência nos protestos de 2014 teve motivação política. A escolha de Susan Barreiros, dificilmente reversível, é mais um elemento na rota de colisão entre as agendas opositora e governista que estremece um Estado até então sob hegemonia chavista. Para libertar López e outros presos, a oposição só precisa de uma lei comum, aprovável por maioria simples, como diz a Constituição. Mas a lei aprovada poderá ser vetada pelo presidente Nicolás Maduro, que já deixou claro que esta é a sua intenção. Maduro pode alegar que López e os demais cometeram crimes contra a humanidade e que não podem ser anistiados. Falta, porém, consenso sobre o que define os crimes. A Corte Penal Internacional, por exemplo, fala em "ataque generalizado e sistemático contra uma população civil". Em caso de veto presidencial, o projeto voltaria ao Parlamento, onde poderia ser ajustado e reenviado a Maduro, que seria obrigado a sancioná-lo. Ou seja, a lei prevê, em tese, um mecanismo que permite ao Legislativo se sobrepor ao presidente. Restaria, no entanto, uma outra carta na manga do governo: submeter a lei ao Tribunal Superior de Justiça sob pretexto de inconstitucionalidade. Embora o TSJ já esteja sob domínio chavista, o governo manobra há meses para reforçar seu controle sobre o órgão. A aposentadoria de 12 dos 32 magistrados da corte foi antecipada sem uma justificativa clara, abrindo caminho para a nomeação dos substitutos. O governo insiste em que a troca é parte das atribuições da atual legislatura e diz que não cairá "na chantagem". Juristas opositores, porém, falam em "fraude constitucional", já que as aposentadorias antecipadas e o processo seletivo para as substituições ocorre de forma arbitrária e sem condições de respeito aos prazos legais. A oposição poderá usar a prerrogativa, garantida pela "supermaioria", de destituir magistrados do STJ. "Há tantos vícios de forma que a oposição alegará nulidade absoluta", disse o jurista Gerardo Fernández. Maduro prometeu resistir à agenda opositora "do jeito que for". Em Washington (EUA), a ONG Human Rights Watch (HRW) emitiu nota em que diz que os presidentes latino-americanos deveriam exigir que os deputados que estão deixando os mandatos na Venezuela "renunciem à intenção de sufocar o Tribunal Supremo de Justiça" para beneficiar o governo de Nicolás Maduro. "A Venezuela pode começar a reverter mais de uma década de autoritarismo restabelecendo a independência do Tribunal Supremo", afirmou José Miguel Vivanco, diretor executivo para as Américas da HRW. 

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