quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Banco Central mantém juros e faz a coisa certa, ainda que tenha feito antes um monte de coisa errada

Por Reinaldo Azevedo - E o Banco Central manteve a taxa de juros nos 14,25%. Escrevi ontem a respeito. O título do meu post: “BC errou quando anunciou aumento de juros e quando ensaiou recuo”. Afirmo naquele post que a instituição nem deveria ter dado como certo, há duas semanas, que os juros iriam subir nem deveria ter anunciado a disposição de rever aquela perspectiva depois que o FMI fez previsões catastróficas para a economia. Também escrevi que, qualquer que fosse a decisão, ela estaria sob suspeita. Transcrevo em azul:
Tombini, em suma, resolveu se meter num buraco sem saída. Querem ver por quê?
1: se não eleva a taxa — e não precisaria mesmo —, dará a entender que cedeu a pressões;
2: se a eleva em 0,25 ponto, sempre restará a suspeita de que, antes de o FMI se manifestar, a elevação seria 0,5 ponto;
3: se eleva em 0,5 ponto, vai parecer que está fazendo ouvidos moucos ao FMI e que vai adotar uma posição mais rígida justamente para deixar claro que não cede a pressões. 
Retomo
Muito bem! Os juros ficarão, por ora, nos 14,25%. E se está fazendo a leitura número um do meu prognóstico: considera-se que o BC cedeu a pressões. Como não haveria decisão sem crítica, resta saber se havia decisão certa. A meu ver, tomou-se a decisão certa. Foi o que recomendei na terça no programa “Os Pingos Nos Is”. O vídeo segue abaixo, a partir dos 46min37s.



Transcrevo um trecho:
“Olhem aqui, se o Banco Central — e eu não sou economista, mas eu sei lidar com lógica, com os fatos e com a história. Se o Banco Central tiver um mínimo de juízo, mantém a taxa de juros onde está. Elevação da taxa de juros de 0,5 ponto é um delírio! Só vai aumentar brutalmente a dívida pública e não vai baixar a inflação. Não tem inflação de demanda no Brasil. Não tem gente comprando demais. Tem recessão no país! Vai aumentar o juro pra quê agora? Só pra mostrar que é valente? Não se trata mais disso. O país está prestes, eu disse isto aqui outro dia, a entrar num regime de “dominância fiscal”, quando a política monetária deixa de ter importância. (…) [Elevação da taxa de juros] não está mais surtindo efeito [para baixar a inflação]. Só eleva a dívida pública. Ou se mexe na questão fiscal — de verdade, não de mentirinha! —, faz-se o trabalho inteiro, não pela metade, ou eles vão continuar a penalizar o Brasil [com aumento de juros], a inviabilizar o Brasil, e a inflação vai continuar alta, se é que não acaba crescendo”.

Arremato
No diagnóstico que o Banco Central apresentou no começo de janeiro sobre as razões de a inflação ter estourado o teto da meta, apresentam-se três fatores, não contestados por ninguém:
– desequilíbrio fiscal;
– reajuste dos preços administrados;
– realinhamento de preços em razão da questão cambial.
Curiosamente, no mesmo documento, ameaçava-se com a elevação dos juros, incapaz de interferir em qualquer um desses três fatores — e o brutalmente mais importante é a questão fiscal. Assim, meus caros, ainda que possa ir na contramão do que deveria pensar “um liberal”, segundo certa cartilha, acho que o Banco Central fez a coisa certa. Ainda que fazendo um monte de coisa errada antes.

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