domingo, 24 de janeiro de 2016

Engenheiros ficam sem emprego, mudam de área e vão até para o Uber

Antonio Carlos Mitisuke Seirio virou motorista do Uber após ficar sem emprego como engenheiro

Recém-formada em engenharia civil, Ana Caroline Gomes, de 23 anos, decidiu continuar os estudos e fazer uma pós-graduação. O engenheiro mecânico Gutemberg Rios, de 33 anos, estuda migrar para o Canadá. "Aqui não tem muita perspectiva de melhora a curto prazo", afirma ele, demitido da empresa onde atuava no final de outubro. Rios faz parte da estatística de 496 demissões na carreira registradas no Distrito Federal no ano passado. Em 2014, já foi possível notar uma redução de vagas: diferentemente de anos anteriores, o saldo entre engenheiros admitidos e desligados naquele ano foi negativo. De acordo com estudo da Federação Nacional dos Engenheiros, foram, ao todo, pouco mais de 52 mil profissionais contratados e 55,1 mil demitidos. A queda nas atividades da construção civil e a Operação Lava Jato, que investiga suspeitas de corrupção na Petrobras e já prendeu executivos das principais empreiteiras do País, são apontadas como principais fatores para a crise no setor de engenharia. E a expectativa dos profissionais para este ano não é animadora. "Para ter obra, precisa haver uma decisão de investimento. Seja do comércio, que vai fazer uma galeria de lojas, seja de alguém que vai reformar a residência. E quem é que está tomando a decisão de investir hoje?" - questiona Eduardo Zaidan, vice-presidente do Sinduscon-SP (sindicato da construção civil). Somente no ano passado, de acordo com dados do Ministério do Trabalho, o setor da construção civil fechou 416,9 mil vagas. Para Zaidan, o atual cenário gera um novo "desmonte" na carreira, que recentemente enfrentou carência de profissionais qualificados. A atual crise no setor de engenharia é comparada, por profissionais mais experientes, à chamada década perdida, nos anos 1980. Naquele período, diante de uma crise profunda na economia, os engenheiros começaram a migrar para funções em outras áreas. "A economia brasileira parece voo de galinha: uns anos são bons, o resto é ruim. Mas acho que este é o pior momento, porque não tem perspectiva de que vai melhorar", afirma Daniel Galano, de 52 anos. Formado em engenharia mecânica em 1987, ele foi demitido da empresa em que atuava em 2014 e, desde então, não conseguiu outro trabalho na área. Também graduado na década de 1980, Antônio Seirio, de 55 anos, aponta dificuldade em se fixar na carreira vinculada "diretamente à indústria", em que se especializou. "Se a economia não gira, não se contrata engenheiro", diz ele, com um MBA no currículo, feito a partir de programa do governo federal, o chamado Promimp (programa de incentivo à indústria). Nos últimos anos, Seirio ocupou funções técnicas em diferentes empresas e, desde novembro, trabalha como motorista do Uber, serviço de transporte particular. "Já vi situações difíceis, mas não como essa", resume Célia Almeida, de 42 anos. Demitida em outubro da empresa em que trabalhava como engenheira ambiental, hoje atua no mesmo local, mas por contrato. O trabalho em tempo integral, de 8,5 salários mínimos, foi reduzido para atividade parcial e 4 mínimos. Com quatro filhos, todos na universidade, recorreu ao seguro-desemprego. "Banhos quentes viraram mornos. O pacote de internet acabou, só eu tenho celular pós-pago agora. Estou segurando o dinheiro que ganho", afirma Almeida.

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