sábado, 23 de janeiro de 2016

Mídia impressa e de TV de Porto Alegre omite tudo sobre Carlos Araújo x Lava Jato


A mídia impressa e televisiva gaúcha passou a semana toda evitando a todo custo disponibilizar uma só linha capaz de aprofundar a instigante reportagem de capa da revista Época desta semana, que trouxe um fotão em close do advogado Carlos Araújo, ex-marido e eminência parda da presidente Dilma Roussef. Rádios como Guaíba e Band atreveram-se a alguma coisa, mas limitaram-se a fazer defesa apaixonada do advogado. E no entanto ninguém foi atrás do Ministério Público Federal e da Polícia Federal para verificar se a reportagem de Época tem fundamento quando avisa que Carlos Araújo é alvo de investigações no âmbito da Lava Jato, já que eles querem saber o verdadeiro teor da série de encontros entre ele e um dos donos da Engevix. A biografia de nenhuma personalidade garante-lhe salvo-conduto diante da necessidade de esclarecimentos frente ao maior escândalo de corrupção da história mundial. 


A Engevix, citada na quinta-feira pelo lobista gaúcho Milton Pascowitch, dona do Estaleiro Rio Grande, é a mesma que patrocinou o cerco feito já com Lava Jato em plena ação, ao ex-marido de Dilma Roussef . O assédio foi feito pelo diretor da Engevix, José Antunes Sobrinho e não foi diferente daquele que os empreiteiros da Lava Jato fizeram ao longo da sua história de relações com personalidades capazes de fazer amigos e influenciar pessoas. É o que conta a revista Época desta semana, referindo-se a investigações iniciadas em dezembro pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal do Paraná, no âmbito da Lava Jato, tudo em função de reuniões que a Engevix manteve em Porto Alegre com o advogado Carlos Araújo, ex-marido e amigo número 1 de Dilma. Na sua primeira reação, o advogado confirmou três reuniões e não apenas uma, como contou a revista, mas preferiu atacar a Rede Globo, dona da revista. Dilma tirou nota negando encontros do ex-marido com a Engevix. Engano seu. Os detalhes da primeira reunião foram contados por Paulo Zuch, que articulou a aproximação de Antunes Sobrinho. Ele disse para Época que ao final do encontro, Carlos Araújo disse textualmente: "Vou ajudar. Tu é o tipo de empresário que o Brasil precisa". O diretor da Engevix estava em Florianópolis quando recebeu sinal verde para a reunião. Foi então que apanhou seu Cessna PP-JAS (o JAS é formado pelas iniciais do seu nome) e foi para Porto Alegre. A Engevix queria a liberação de R$ 1 bilhão do Fundo Nacional de Marinha Mercante, dinheiro liberado pelo FNM, mas bloqueado pelo BB por falta de garantias reais. A empresa é uma das donas do Estgaleiro Rio Grande, tem contratos de R$ 15 bilhões com Petrobrás e Sete Brasil, mas está sem dinheiro. Ela também está encalacrada na administração do aeroporto de Brasília. Por ter facilitado o encontro com Araújo, Paulo Zuch recebeu R$ 200 mil da Engevix, mas reclama de outros R$ 1,8 milhão que não recebeu. A Ecovix, dona do Estaleiro Rio Grande, diz não ter detalhes sobre a ligação de Milton Pascowitch com a companhia formada por Engevix, Funcef (fundo de pensão da Caixa) e um grupo de empresas japonesas lideradas pela Mitsubishi Heavy Industries. Milton Pascowitch, que contou detalhes das propinas que pagou ao ex-ministro Zé Dirceu, fundador do PT, na quinta-feira, ao juiz Sérgio Moro é gaúcho, nascido em Porto Alegre, e de família riograndina. Ele colocou a Engevix no radar da Petrobrás, segundo Gerson Almada, um dos donos da empreiteira. No trecho mais contundente de depoimento ao juiz Sérgio Moro, Almada disse: "Não sei o que o Pascowitch fazia com o dinheiro, (...) se não pagássemos poderíamos não pegar novas concorrências (...). Ele era o link que eu tinha com o PT e com a Petrobras". Os intermediários ficariam com até 1% dos contratos em que atuavam, nesta versão. E Pascowitch teria apresentado Almada aos ex-diretores de Abastecimento Paulo Roberto Costa e de Serviços Renato Duque. O foco em Pascowitch foi reforçado pela quebra de sigilo da lista de clientes da consultoria do ex-ministro petista José Dirceu, o "guerreiro do povo brasileiro". Uma empresa que ele mantém em sociedade com o irmão José Adolfo, a Jamp Engenheiros Associados, aparece como origem de um pagamento de R$ 1,45 milhão à JD Assessoria e Consultoria, a empresa do ex-ministro de Lula. 


O delator Milton Pascowitch prestou o primeiro depoimento ao juiz Sérgio Moro desde que fechou a delação premiada, na Lava Jato. Foi ontem, em Curitiba. Ele disse como pagava propina ao ex-ministro José Dirceu, que segundo o PT é o mais completo "guerreiro do do povo brasileiro". Ele disse ao juiz Sérgio Moro que conheceu o ex-ministro José Dirceu em 2007. E que os dois tiveram muitos encontros para discussão de vários assuntos, inclusive pagamento de propina. 
Milton Pascowitch: Conheci o Zé Dirceu pessoalmente. A partir daí os contatos eram feitos através de e-mail, diretamente com Zé Dirceu, para discussão de alguma coisa na área política, alguma solicitação especial.
Juiz Sergio Moro: E nesses contatos diretos que o senhor teve com essas pessoas, esse assunto das comissões, das propinas era tratado?
Milton Pascowitch: De uma forma genérica, eram.
Milton Pascowitch é um dos 15 acusados de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa na ação que também envolve José Dirceu, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari, e o ex-diretor da Petrobras, o petista Renato Duque. De acordo com procuradores da Lava Jato, Pascowitch usou a sua empresa Jamp para repassar a José Dirceu propina obtida em contratos da Petrobras com a construtora Engevix. 
Milton Pascowitch: Isso era feito de uma forma, um simples depósito na conta e depois esses depósitos foram contabilizados e esmiuçados e foi feito, então, um contrato.
Juiz Sergio Moro: Tá, mas tinha recursos dele represados do que?
Milton Pascowitch: Em função das comissões dos contratos da Engevix.
Juiz Sergio Moro: Comissões dos contratos, propina então?
Milton Pascowitch: Propina.
Na denúncia do Ministério Público, Pascowitch é acusado de usar a Jamp para comprar a sede da JD Consultoria para reformar um apartamento do irmão de Dirceu, Luiz Eduardo, e uma outra casa do ex-ministro, além de comprar um apartamento da filha dele, Camila. Na audiência Pascowitch confirmou que a Jamp não ficaria com o último imóvel, mas com a prisão de José Dirceu, o negócio não foi feito. Milton Pascowitch: Disse que eram R$ 500 mil. Não era do valor de mercado, era um pouco acima do valor de mercado, mas fazia sentido mesmo porque eu também tinha recursos dele mesmo para fazer isso que está aí e nós fizemos a aquisição deste imóvel. 
Juiz Sergio Moro: Isso estava muito claro nestas transações que o imóvel não ficaria com a Jamp?
Milton Pascowitch: Ficava muito claro.
Sobre a sede da JD Consultoria, Pascowitch reafirmou que fez um pagamento de R$ 387 mil para comprar um imóvel. O dinheiro, segundo Pascowitch, também era propina de contratos da Petrobras.
Juiz Sergio Moro: O senhor chegou a comparecer neste imóvel?
Milton Pascowitch: Muitas vezes.
Juiz Sergio Moro: Era mesmo a sede da JD?
Milton Pascowitch: Era a sede da JD.
Juiz Sergio Moro: Encontrou o José Dirceu lá?
Milton Pascowitch: Muitas vezes.
A defesa de José Dirceu, da filha dele, Camila, e do irmão, Luiz Eduardo, afirmou que o depoimento de Milton Pascowitch foi confuso - e que as declarações precisam ser provadas, para que se faça qualquer acusação.

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