sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Estados Unidos despacham primeira carga de gás natural para o Brasil

A revolução do gás e do petróleo de xisto nos Estados Unidos teve nessa sexta-feira um novo marco com a primeira exportação de gás natural liquefeito para o Brasil. O navio-cisterna Asia Vision foi carregado com gás natural liquefeito (LNG) da companhia Cheniere Energy no Texas (sul dos EUA) no terminal Sabine Pass em Luisiana na noite de quarta-feira, zarpando rumo ao Brasil. "Esse histórico evento inicia uma nova fase no comércio de energia do país e é um marco importante para a Cheniere", disse o presidente e diretor-executivo interino, Neal Shear, em comunicado. Em 2008, a Cheniere ainda confiava na estratégia oposta de importar gás. Entretanto, o gás dos campos de xisto, explorado graças ao desenvolvimento da fraturação hidráulica ou tecnologia de fracionamento, mudou essa posição. A produção de gás natural nos Estados Unidos deu um salto de quase 43% entre 2010 e 2014 durante o auge da produção de xisto. Chegou ao pico de 728,55 bilhões de metros cúbicos em 2014 e ultrapassou esse recorde em 2015, baseado nos dados dos primeiros 11 meses do ano passado. Desse modo, a Cheniere se transformou na companhia que mais exporta LNG de um dos 48 estados continentais dos Estados Unidos. As exportações partiram do Alasca para o Japão durante vários anos. Outras operações de exportação do LNG foram planejadas, incluindo as da Freeport LNG -baseada no Texas- e da Lake Charles LNG no sudoeste da Luisiana, um projeto da Energy Transfer e do BG Group. A companhia energética Dominion começou a construção em Maryland de sua fábrica de liquefação Cove Point para exportações da LNG para o Japão e a Índia. A Cheniere também anunciou uma dúzia de acordos comerciais internacionais. A francesa Engie, por exemplo, comprará até 12 carregamentos da LNG por ano entre 2018 e 2023. Segundo Glickman, o custo diferencial entre o gás natural dos Estados Unidos e o da Europa explica a corrida por projetos de exportações americanas. O gás natural produzido na Europa custa cerca de 4,18 dólares por cada milhão de BTUs (Unidade térmica britânica), comparado com os 2 dólares nos Estados Unidos e com um custo de transporte estimado em 50 centavos por milhão de BTUs, o preço americano é altamente atrativo. Por outro lado, enquanto os preços do petróleo e do gás natural despencaram pelo aumento da produção de xisto, o gás caiu muito mais. Glickman estima que comparado com a base BTU, o petróleo a 30 dólares o barril, é cerca de 2,5 vezes mais caro do que o gás. E para companhias como a Cheniere, que transformam gás natural em LNG para exportação, os preços baixos do gás ajudam a manter menores custos de operação. No entanto, a perspectiva para os exportadores de LNG continuam frágeis, segundo a Bentek Energy, parte do grupo sobre informação do setor energético Platts. A demanda está mais fraca, especialmente na Ásia, em meio de à desaceleração do crescimento da economia da China; o Japão reativou seus reatores nucleares depois do desastre de Fukushima em 2011 e a produção de carvão aumentou, assim como a geração de energia nuclear na Coreia do Sul. "Apesar de a maioria das instalações de exportação da LNG (nos EUA) terem contratos assegurados por mais de 80% de sua capacidade disponível, continua existindo um risco diferente de subutilização nos próximos cinco anos", disse Bentek no relatório de agosto passado.

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