sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Executiva brasileira acha uma verdadeira "caixa-preta" na Aerolíneas Argentinas, produzida pela cupinzada do regime peronista



A executiva brasileira Isela Costantini, de 44 anos, completou na quinta-feira (4) um mês à frente da maior empresa aérea argentina, a estatal Aerolíneas Argentinas. Os 30 dias, no entanto, passaram longe do necessário para que ficasse ciente de toda a situação da companhia. De números, por enquanto, só tem um de cabeça: a empresa terá um deficit de US$ 1 bilhão neste ano se não houver mudanças.  


As estimativas do mercado, porém, apontam que a empresa vinha tendo um prejuízo anual de US$ 400 milhões. Isela Costantini não tem dados da dívida total nem sabe de cor os custos anuais de operação. "Todo dia aqui é uma surpresa e sempre surge uma nova dívida", disse ela. À Boeing, por exemplo, precisa pagar US$ 110 milhões, que deveriam ter sido acertados no ano passado. A auditoria mais recente foi feita em 2013, pela KPMG. Desde então, a estatal não tem números confiáveis. Em julho do ano passado, foi concluído o último balanço, mas Isela Costantini não acredita nesses dados. Diante da desordem, a prioridade da executiva é organizar os processos de operação e fazer com que o deficit anual não chegue nem a US$ 500 milhões. Para isso, algumas medidas já foram tomadas. Em janeiro, a brasileira rescindiu o contrato com a Sol, uma empresa aérea local e privada. Desde setembro do ano passado, a Aerolíneas arcava com os custos de voo da parceira em troca de poder usar a frota da Sol (composta por oito aeronaves) em caso de um aumento de demanda. Isela Costantini também cortou custos não operacionais. Um exemplo foi a diminuição no valor da comissão pago às agências revendedoras de passagens - caiu de 3% para 1%. Por enquanto, demissões não estão no radar, apesar de Isela Costantini admitir que o quadro de funcionários, com 12.200 postos, é inchado. A intenção inicial é analisar quais departamentos precisam ou não dos empregados e fazer realocações. A Aerolíneas pertencia ao grupo espanhol Marsans até 2008, quando o governo de Cristina Kirchner a reestatizou, assumindo uma dívida de US$ 890 milhões. Durante o período kirchnerista, surgiram acusações de corrupção e mau uso do dinheiro público - em 2015, o governo repassou à empresa US$ 464 milhões. "Estamos tentando criar uma cultura de orçamento. Os funcionários aqui buscavam as melhores práticas, mas com um cheque em branco. Eles sabiam que a companhia tinha dívidas, mas não havia a preocupação de lançar novos negócios que gerassem lucros". O governo peronista populista muito incompetente e também muito corrupto de Cristina Kirchner procurou ampliar as conexões dentro do país, incluindo nas rotas cidades que não eram atraentes sob o ponto de vista comercial. Mas, por enquanto, não haverá alteração no número de destinos para reduzir gastos, afirma a executiva: "A empresa é do Estado, isso não muda. Queremos ter uma empresa com objetivo social, mas o mínimo é que ela não perca dinheiro". Em relação à desvalorização do peso, Isela Costantini afirma que essa não é uma preocupação no momento. No Brasil, o enfraquecimento do real é um dos fatores geradores de prejuízos às aéreas. Para a executiva, o barateamento do combustível no mercado internacional compensará a alta do dólar. Isela Costantini, no entanto, não sabe qual é a parcela exata dos custos em dólares no total da empresa, mas diz que é inferior a 60% (valor considerado pelas brasileiras do mesmo setor). A executiva nasceu em São Paulo, mas é filha de argentinos. A cidadania argentina foi tirada há menos de um ano. Formada em comunicação pela PUC-PR, comandou até 2015 a General Motors na Argentina, no Paraguai e no Uruguai.

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