quarta-feira, 16 de março de 2016

Delcídio diz que banqueiro topou pagar R$ 1,5 milhão para calar delator



O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) disse em seu acordo de delação que o banqueiro André Esteves aceitou ajudar a comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró porque temia que viessem à tona as propinas que um sócio dele pagou à BR Distribuidora para ter essa bandeira numa rede de postos de gasolina. Esteves, que está em prisão domiciliar e alegava ser vítima do maior erro da Operação Lava Jato, teria aceitado pagar R$ 1,5 milhão ao advogado que defendia Cerveró, Edson Ribeiro, segundo o relato de Delcídio. O senador afirma que "André Esteves, em principio, disse que tinha interesse nos pagamentos para o custeio da família Cerveró, em pagar os honorários advocatícios". O defensor de Cerveró chegou a preparar um contrato que seria celebrado com uma das empresas de Esteves para justificar a saída legal dos recursos, ainda de acordo com Delcídio. As negociações entre o senador e o banqueiro começaram em setembro do ano passado, depois que um dos filhos do pecuarista José Carlos Bumlai, chamado Maurício Bumlai, desistiu de ajudar Cerveró, segundo o relato de Delcídio. Maurício chegou a pagar R$ 250 mil ao advogado de Cerveró, em cinco parcelas, mas interrompeu os pagamentos quando soube que o lobista Fernando Soares, o Baiano, citara José Carlos Bumlai em sua delação. Ou seja, o silêncio de Cerveró já não servia para nada no caso de Bumlai porque um outro delator entregara o papel dele na intermediação de contratos da Petrobras, no caso o fornecimento de sonda para exploração de petróleo, negócio que rendeu R$ 1,6 bilhão para o grupo Schahin. Delcídio conta que procurou a família Bumlai a pedido do ex-presidente Lula. O senador relata que Lula pediu ajuda a ele para "segurar" a delação de Cerveró porque as revelações atingiriam o seu amigo pecuarista. De acordo com o senador, "o motivo fundamental para sua intervenção na engrenagem voltada ao embaraço da delação de Nestor Cerveró consistia em evitar que viessem à tona fatos supostamente ilícitos com o envolvimento do próprio depoente [Delcídio], além de José Carlos Bumlai e de Lula". Delcídio diz que houve uma "chantagem explícita" por parte de Lula, realizada inicialmente sobre ele e depois sobre a família Bumlai. O objetivo da "chantagem", de acordo com Delcídio, era comprar o silêncio de Cerveró" e, assim, favorecer não apenas José Carlos Bumlai, mas também o próprio Lula". Delcídio relata que Esteves aceitou participar da operação para silenciar Cerveró porque queria evitar que o seu nome aparecesse na Lava Jato como pagador de suborno. O banqueiro dizia que não queria se envolver com propina porque "meu banco é meu nome". Foi por essa razão, segundo o senador, que o banqueiro repassou a um sócio numa rede de 120 postos de gasolina, chamado Carlos Santiago, a tarefa de pagar propina à BR Distribuidora para que a rede passasse a operar com essa bandeira. Como a BR é loteada politicamente, conseguir operar com a bandeira da distribuidora requer apoio político. No caso dos postos, o senador Fernando Collor (PTB-AL) é alvo de uma investigação no Supremo, na qual é acusado pelo doleiro Alberto Youssef de ter recebido R$ 3 milhões nesse negócio. Cerveró forneceu outros valores em sua delação. Ele diz ter ouvido do empresário Pedro Paulo Leoni Ramos que Esteves e seu sócio pagaram de R$ 6 milhões a R$ 10 milhões para obter a bandeira da BR para a rede de postos. O senador diz ainda que o banqueiro é um dos principais mantenedores do Instituto Lula. "Isso se deve ao fato de Lula ter sido um grande sponsor (patrocinador) dos negócios do BTG". Delcídio, no entanto, diz não saber da participação de Lula num outro negócio suspeito que Esteves teria participado, a compra de uma parte da Petroáfrica. Segundo Delcídio, o BTG Pactual pagou US$ 1,5 bilhão por 50% da Petroáfrica, mas o negócio valia US$ 2,7 bilhões, de acordo com avaliação que ele diz ter ouvido de auditores da Petrobras. Delcídio, Esteves e o advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, foram presos em 25 de novembro do ano passado. Delcídio saiu da prisão depois de fazer delação. Esteves cumpre prisão domiciliar em São Paulo desde 17 de dezembro, quando o Supremo libertou-o do presídio Bangu 8. 

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