terça-feira, 15 de março de 2016

Mercadante nega ter oferecido ajuda a Delcídio, blinda Dilma e diz que não sai


Aloizio Mercadante, o mesmo que já "renunciou à renúncia" e "revogou o irrevogável", tentou nesta terça-feira renunciar também aos fatos. O ministro da Educação veio a público rechaçar que tenha oferecido dinheiro e tentado convencer o senador Delcídio do Amaral (MS) a não fechar acordo de colaboração premiada na Operação Lava Jato. O site de VEJA revelou gravações que fazem parte da delação do senador Delcídio do Amaral e mostram uma conversa do ministro com José Eduardo Marzagão, assessor do senador. Os áudios contradizem Mercadante. Na gravação, ele oferece ajuda "dentro do governo" para que o parlamentar não "desestabilize tudo": Mercadante fala em auxílio financeiro, político e jurídico a Delcídio do Amaral. Ao longo de toda a coletiva, o petista procurou blindar a presidente Dilma Rousseff - embora o senador tenha afirmado que ele agia a mando dela. O ministro ainda tratou a tentativa de obstruir a Justiça como um ato de solidariedade. "Não trato de delação, apesar da tentativa do assessor de induzir esses assuntos, minha atenção era de solidariedade", disse o ministro: "Não trato de acordo financeiro, não falo para ele não delatar". Mercadante disse que "a oposição está no papel dela" ao pedir ao Supremo Tribunal Federal que expeça um mandado de prisão contra ele. O ministro contou que conversou mais cedo com a presidente Dilma Rousseff e informou a ela que convocaria uma coletiva de imprensa para explicar as gravações. Ele confessou que assumiu para a presidente ter procurado o assessor de Delcídio do Amaral. "A responsabilidade é totalmente minha", disse Mercadante. O ministro petista disse que não pretende se afastar do cargo e que espera convocação do Congresso Nacional para se explicar. "Enquanto tiver confiança da presidente eu ficarei", afirmou. Também se colocou à disposição do Ministério Público Federal e do Supremo Tribunal Federal. Mercadante negou ter procurado ministros da Suprema Corte - nos áudios, porém, ele cita uma conversa com o presidente da Corte, ministro Ricardo Lewandowski. À imprensa, o ministro da Educação ainda se eximiu de assumir qualquer erro e declarou preferir "continuar assim". "Eu espero que esse País valorize a solidariedade, o companheirismo, o gesto de generosidade, de caridade com as pessoas num momento de tragédia pessoal", afirmou. "Espero que não prevaleça sobre isso a tentativa de induzir uma conversa para onde o seu interlocutor não quer e de tratar de assuntos que eu me neguei a tratar", continuou Mercadante. Mercadante ainda tentou vincular a sua atuação no caso Delcídio à experiência que teve enquanto senador, entre 2003 e 2011. Ele disse desconhecer o processo sobre a prisão do ex-líder do governo, mas que tinha conhecimento da existência de uma consultoria e de um advogado-geral do Senado que poderiam se manifestar em defesa do petista. "Isso não tem nenhuma ilegalidade. Significa apenas levantar uma tese jurídica", ponderou o ministro da Educação. Em mais uma tentativa de se desvincular das acusações de que estaria tentando obstruir a Lava Jato, Mercadante afirmou que tinha "preocupação zero" com a delação de Delcídio. "Se ele está ameaçando fazer, eu não vou entrar nisso. Não estou nem aí se vai delatar. A decisão é dele. Ele faz o que achar que deve", diz o ministro, explicando que fez essas declarações a José Eduardo Marzagão. Em reação, o ministro agora ameaça processar o assessor de Delcídio, a quem acusa de ter agido para induzi-lo em conversa gravada. "Verei as medidas judiciais cabíveis em relação a esse assessor. Houve má-fé em um gesto de solidariedade", disse Mercadante.

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