sábado, 5 de março de 2016

Não mandaremos Dilma e Lula tomar no c… Nós vamos asfixiá-los com o oxigênio da democracia

Dilma sabe que, a exemplo de Lula, perdeu as ruas. E isso ficará bem claro no próximo dia 13. Os milicianos que saem em defesa do PT, do Poderoso Chefão e, secundariamente, da presidente são militantes ligados ao partido e a seus aparelhos. São a periferia da nova “classe social” que o PT representa no Brasil, para usar a expressão cravada por Milovan Djilas em 1957


Por Reinaldo Azevedo - A política se exercita segundo duas lógicas principais: a da publicidade e a do bunker. A primeira é própria dos regimes democráticos, que, segundo seus críticos, produz o milagre às avessas de equiparar os melhores aos piores. Em parte, a objeção é mesmo procedente. É por isso que as democracias mais avançadas preservam alguns domínios do escrutínio da maioria. É o caso da ciência, por exemplo. Ainda que a sua dimensão ética possa e deva ser submetida ao debate público, não convém pedir que as maiorias decidam qual deve ser a estrutura do DNA. Sobre o dito-cujo, só uma postura é correta: a procura do “em si” da coisa. Nem o regime democrático é capaz de fabricar um para cada gosto. Se a democracia não é o regime perfeito porque tanto os Schopenhauers como os idiotas valem um voto, ainda assim, já inferiu aquele, é o melhor de todos os regimes ruins. Seu oposto é a opacidade do “bunker”, que é típica das ditaduras, sim, mas que pode se manifestar mesmo num regime democrático. Um vídeo espetacular circula na Internet. Jandira Feghali (RJ), deputada do PCdoB, conhecida por “Jandirão” em razão de seu estilo, da fineza da retórica e da delicadeza do pensamento, resolveu se comportar como cineasta de interiores. Depois do depoimento de Lula, ela flagra o ex-presidente da intimidade, numa conversa, segundo ela própria, com Dilma Rousseff. O homem que, segundo o Instituto Lula, não tem nem usa celular se mostrava muito à vontade falando com a chefe da nação. Aos berros, expressou a importância que confere à Justiça: “Eles que enfiem o processo no c…”. E usou aquele monossílabo tônico de duas letras, que começa com “c” e termina com “u” — com assento e sem acento, na melhor fisiologia gramatical —, revelando, uma vez mais, as cavernas do pensamento onde se produz o autêntico petismo. Como se nota, Lula gritava, como fazem os chefes mal-educados em seus ataques de assédio moral contra subordinados incompetentes ou, ainda que competentes, submissos. Submissa, Dilma é. Competente, sabe-se que não. Logo, suponho que, do outro lado da linha, ouvia-se apenas um muxoxo, uma fala presa na garganta, que não se voltava para o mundo; antes, retornava ao diafragma, esmagada. Também a fala, na lógica do bunker, se exercita para dentro, não para fora. No dia em que esse espetáculo grotesco veio a público, a presidente se desloca de Brasília para São Bernardo — com o nosso dinheiro, como tudo o mais — e vai visitar Lula em seu apartamento. Emprestava, assim, a solidariedade da presidente da República, não da amiga — já que tal dimensão deixa de existir quando se ocupa tal cargo —, àquele que é alvo de investigação, numa clara afronta à Justiça. É a lógica do bunker se manifestando em plena democracia. Dilma sabe que, a exemplo de Lula, perdeu as ruas. E isso ficará bem claro no próximo dia 13. Os milicianos que saem em defesa do PT, do Poderoso Chefão e, secundariamente, da presidente, são militantes ligados ao partido e a seus aparelhos. São a periferia da nova “classe social” que o PT representa no Brasil, para usar a expressão cravada por Milovan Djilas em 1957, título de seu livro, ao se referir ao sistema comunista (não só o iugoslavo), ao qual havia servido como presidente da Assembléia e vice-presidente. Mas sempre lutando por democracia, diga-se. Djilas percebeu a impossibilidade de conciliar um regime de liberdades com o socialismo. Não estou atrás de medalhas, claro!, mas fui o primeiro no Brasil — tenho as provas, rsss — a associar as teses de Djilas ao PT. E era ainda o PT que disputava o poder. O livro é encontrável em inglês. Já teve tradução no Brasil. Acha-se em algum bom sebo, talvez. A desnecessária condução coercitiva de Lula inflamou a nova classe, e quase nada de útil pode advir disso. Traz, no entanto, um efeito associado que pode ser positivo: levou Dilma para o bunker de Lula. Já não é possível distinguir, e é bom que não, o governo dela das artimanhas dele. É evidente que não existe “dilmismo”. Ela é mera funcionária da máquina de assalto ao estado em que se transformou o PT. Mas existe o lulismo, ao qual intelectuais pés-rapados conferiram o estatuto de uma teoria do poder, que o Babalorixá de Banânia expôs ligeiramente na sua entrevista-pronunciamento. Ela consiste, como ele mesmo deixou claro, em garantir lucros formidáveis aos muito ricos e distribuir caraminguás aos pobres, silenciando-os com benesses mesquinhas, roubando-lhes cidadania em troca de alguns reais. O vídeo feito por Jandirão e a visita de Dilma ao apartamento de Lula restarão para a história como aberrações que antecederam a queda da presidente e do lulismo. Lula não estava mandando a Justiça enfiar o processo no monossílabo tônico sem acento terminado em “u”. Lá do bunker, ele mandava a democracia tomar no c… Respeitado o devido processo legal, sem atropelo, sem afronta a nenhuma das garantias, há elementos que indicam que o lugar da dupla é a cadeia. Não os mandaremos tomar no c… Vamos asfixiá-los com o oxigênio da democracia. PS: Desde que se lançou na política, Jandirão prestou seu primeiro serviço à democracia.

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