quarta-feira, 13 de abril de 2016

Brasil está numa encruzilhada, diz economista do Banco Mundial


O Brasil está numa "encruzilhada": ou toma logo as medidas necessárias na economia, como ajuste fiscal e reformas estruturais, ou elas serão bem mais dolorosas no futuro. O alerta é de Augusto de la Torre, economista-chefe do Banco Mundial para América Latina e Caribe. Nesta terça-feira (12), Torre apresentou, durante evento do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington, um estudo sobre o fim do ciclo das commodities e seu impacto na região, que entra no quinto ano seguido de desaceleração econômica. Para ele, as incertezas domésticas tornam difícil estimar até quando irá durar a recessão no Brasil. Segundo projeção do banco, a economia brasileira terá contração de 3,5% neste ano. Leia trechos da entrevista dele à Folha.

Folha - Houve países que souberam aproveitar o período de bonança das commodities, outros não. Em que o grupo está o Brasil?
Augusto De la Torre - É difícil situar o Brasil em um grupo, porque o auge da bonança, de 2003 a 2012, teve duas fases. A primeira, de 2003 a 2008, quando quase todos os países da América Latina foram cuidadosos na administração da bonança. Alguns expandiram o consumo mais do que outros, como o Brasil, mas não foi exagerado e a taxa de poupança não caiu. E há a segunda fase, entre 2010 e 2012, quando começamos a ver uma expansão nos gastos e no consumo que não era sustentável. E não apenas no Brasil. Vimos isso na Colômbia, no Chile, no Equador, na Bolívia. Naquela época, durante o grande declínio na atividade econômica como resultado da crise global, as economias dos países emergentes começaram a se recuperar bem rapidamente. E nós pensamos que a recuperação havia chegado para ficar. Pensamos que tínhamos a renda e os preços para continuar os padrões de consumo e despesa que havíamos desenvolvido. Estávamos muitos felizes com esses padrões de consumo, porque eles estavam gerando progressos sociais muito significativos. Estavam ajudando a reduzir a pobreza, a aumentar a classe média e reduzir a desigualdade. Foi nessa época que as coisas começaram a sair do controle. E é ali que vemos o Brasil perder mais o controle que outros. Quando 2012 chegou, o Brasil tinha assumido compromissos excessivos com gastos, e agora precisa digerir quais são as implicações da queda da renda.
O que deve ser feito para corrigir esses erros?
O que deve vir agora é um processo complicado, mas necessário, de ajustes de gastos. Ninguém gosta disso em nenhum país do mundo. Então é preciso fazê-lo de forma gradual e equilibrada, sem perder a estabilidade macroeconômica. Se a estabilidade é perdida, os ajustes terão que ser ainda mais dolorosos no futuro e ficará mais difícil proteger os pobres. Esse processo no Brasil está se tornando muito complicado, porque as políticas não estão encontrando o espaço para fazer as reformas fiscais.
Há risco de o país perder as conquistas sociais?
Infelizmente, não posso negar que esse risco existe. Se for possível caminhar nessa corda bamba do ajuste de gastos, com a ajuda da desvalorização do câmbio, evitando a inflação, mantendo a estabilidade macroeconômica e tentando fazê-lo gradualmente, o resultado será melhor. Se isso não puder ser feito hoje, o ajuste será bem mais duro no futuro. Caso contrário, os mercados cuidarão disso e tudo será resolvido com inflação. É uma encruzilhada de enorme importância, porque o que fazemos hoje determinará o tamanho da reversão dos ganhos sociais.
O senhor enxerga o fim da recessão no Brasil?
A primeira coisa é que não dá para evitar as reformas estruturais. O Brasil sabe o que tem que fazer: reduzir o "custo Brasil", melhorar a infraestrutura para que as pessoas possam movimentar bens e serviços ao redor de seu gigantesco território, integrar melhor a economia aos mercados internacionais, trazer investidores para gerar mais diversificação e prosperidade, continuar a melhorar a educação. Mas é preciso reconhecer que essas reformas estruturais não terão efeito imediato. É preciso fazê-las, mesmo sabendo que os frutos não poderão ser colhidos no curto prazo.
Há alguma medida que poderia ter um efeito imediato?
No caso do Brasil o que teria efeito imediato seria algo que reduzisse de forma dramática a incerteza. Nada pior para os investidores que a incerteza. Quando as coisas não estão claras, os investidores esperam para ver o que acontecerá. Será muito difícil reduzir a incerteza se alguns assuntos políticos não forem esclarecidos e as ações de política fiscal não forem esclarecidas. Essas são as condições básicas para reduzir a incerteza, que poderia ter um efeito imediato nos investimentos.

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