quarta-feira, 13 de abril de 2016


Ex-conselheiro pede que CVM investigue balanço da Petrobras


Ex-conselheiro da Petrobras, o investidor Mauro Cunha pediu à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) que investigue a adoção, pela estatal, de instrumento conhecido como contabilidade de hedge, que compensa parte dos efeitos de variações cambiais no seu balanço e permitiu reduzir os prejuízos de 2014 e 2015. Em seu pedido, Cunha diz que o uso do instrumento pode levar o investidor a interpretar equivocadamente a realidade econômica da companhia. Por isso, diz, os balanços de 2013 a 2015 deveriam ser refeitos. A contabilidade de hedge permite às empresas compensar, em seu balanço, efeitos da variação cambial usando receitas futuras em dólares. Desde 2013, a Petrobras usa suas receitas futuras de exportação para diminuir os efeitos da desvalorização cambial sobre sua elevada dívida. A prática é questionada por acionistas minoritários com assento no conselho de administração da estatal. Os últimos três balanços trazem pareceres contrários ao uso do instrumento, assinados por Cunha e, no último ano, pelos conselheiros fiscais Reginaldo Ferreira Alexandre e Walter Luis Albertoni, também representantes dos minoritários. Cunha alega que a Petrobras é importadora líquida de petróleo e derivados – ou seja, importa mais do que exporta – e, por isso, não poderia usar receitas de exportações para compensar a variação cambial sobre sua dívida em dólares. Além disso, ele argumenta que, ao reduzir o impacto do câmbio sobre o serviço da dívida, a contabilidade de hedge pode levar a empresa a pagar dividendos ou participação nos lucros a seus empregados de forma indevida, em caso de fechar o ano com lucro. Em 2015, a empresa teve prejuízo de R$ 36,9 bilhões, provocado principalmente por baixas no valor de ativos. Caso não tivesse usado a contabilidade de hedge, as perdas seriam maiores. Para Cunha, o instrumento permite à empresa operar "com um enorme descasamento cambial, sem que seu lucro líquido seja proporcionalmente afetado". Na contramão da avaliação dos minoritários, a direção da Petrobras decidiu ampliar o uso do instrumento, aumentando de US$ 50,8 bilhões para US$ 61,5 bilhões o valor das exportações que podem ser usadas para compensar a variação cambial. Em teleconferência com investidores no mês passado, o diretor financeiro da estatal, Ivan Monteiro, defendeu que a companhia prevê que suas exportações vão crescer com o aumento da produção e a queda do consumo interno. A CVM solicitou informações à Petrobras sobre o uso da contabilidade de hedge para analisar o tema. 

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