domingo, 10 de abril de 2016

Intolerância a corrupção indica mudança de padrão, diz Joaquim Levy


O ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse neste sábado (8) que o Brasil vive "uma mudança de padrão" ao comentar o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A tendência é mundial, afirmou, citando outros países em que escândalos de corrupção abalaram a política. Ele alertou que, sem ações políticas e econômicas, o País corre o risco de perder conquistas feitas quando o cenário externo era favorável. "É uma mudança de padrão que está acontecendo no mundo inteiro. Comportamentos que antes eram considerados normais, não são mais", disse Levy em uma conferência de estudantes brasileiros em Chicago, nos EUA. Ele deu como exemplo o caso de Israel, onde o ex-premiê Ehud Olmert foi condenado à cadeia por corrupção. O ex-ministro falou para uma platéia de cerca de 300 estudantes inscritos na BrazUSC, maior conferência de estudantes universitários brasileiros no exterior. Foi uma de suas primeiras aparições públicas desde que deixou o governo, em dezembro. Levy havia confirmado participação em pessoa na conferência, mas cancelou sua viagem a Chicago na última hora, alegando compromissos. Diante um auditório lotado na Universidade de Chicago, onde estudou, o ex-ministro falou em um vídeo gravado previamente e em seguida respondeu a algumas perguntas de estudantes. Um deles, Gabriel Guimarães, que cursa economia em Harvard, quis saber quais seriam as consequências do impeachment da presidente Dilma para o Brasil, mas Levy evitou dar uma resposta direta, preferindo discorrer sobre a mudança de padrão de comportamento na economia e na política. "Temos que entender que estamos buscando uma mudança de padrão e isso está acontecendo no mundo inteiro, inclusive nos países desenvolvidos. O que era aceitável em alguns anos não é mais. Há dez ou 20 anos se faziam coisas que não são mais aceitas", disse. Ao falar de suas dificuldades no governo, o ex-ministro comentou que um dos maiores problemas foi o ambiente contrário à conciliação política, que impediu a aprovação de medidas importantes, como a volta da CPMF. Levy disse que o Brasil "não desperdiçou o ciclo das commodities", como é conhecido o período de preços altos das matérias-primas da década passada. Mas é preciso agir para não perder as conquistas. "Temos que tomar as medidas necessárias para que a gente não perca o que conseguiu em um momento favorável. Isso significa tomar decisões na área econômica, algumas de natureza fiscal, outras de concorrência, de facilitar que as pessoas possam fazer as coisas", disse. Levy elogiou a solidez das instituições brasileiras e lembrou a instabilidade política em outros países, afirmando que a crise no Brasil é difícil, mas não é única, "A África do Sul enfrenta uma questão muito clara envolvendo o próprio presidente, há também o caso da Malásia. E há desdobramentos políticos em países europeus, como na Espanha", disse.

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