sábado, 16 de abril de 2016

Oposição mira Cardozo e Lula; governo centra ataques em Cunha

Cinco deputados do PCdoB se manifestaram na madrugada deste sábado contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Os comunistas miraram sobretudo o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), réu no STF por envolvimento no petrolão, para atacar o processo e argumentaram pela legalidade das pedaladas fiscais praticadas pela petista, base do pedido de impedimento. A presidente do PCdoB, Luciana Santos (PE), citou Karl Marx duas vezes em seu discurso, que também teve ataques à Operação Lava Jato e empregou a versão governista para as investigações cujo desenrolar desvendou o maior caso de corrupção da história do país. Segundo a deputada, a Lava Jato "vasculhou a vida de Dilma" e a apuração do escândalo na Petrobras só foi possível porque Lula fortaleceu a Polícia Federal e Dilma regulamentou a delação premiada. Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que também atacou Cunha, apelou ao discurso de que há uma trama internacional para interromper o mandato da petista. Para Jandira, caso assuma a presidência, Michel Temer "não governará e não poderá sair às ruas". O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) atacou o PSDB e o senador Aécio Neves, acusando-os de articular uma "intentona golpista" por não aceitarem a derrota eleitoral em 2014. Para Silva, Dilma recorreu às pedaladas para manter programas sociais e, portanto, quem criminaliza a presidente pelas pedaladas quer também o fim do Bolsa Família. Rubens Pereira Jr. (PCdoB-MA), por sua vez, comparou Cunha e Temer ao casal Frank e Claire Underwood, protagonistas da série House of Cards que se articulam para chegar à Casa Branca. "Não sei quem é Claire e quem é Frank", provocou. Depois dos comunistas, assumiram o microfone os deputados do PSC, encabeçados por Jair Bolsonaro (RJ). Recém-egresso do PP, o deputado não mencionou pedaladas fiscais ou crime de responsabilidade de Dilma Rousseff, mas citou supostas reuniões clandestinas envolvendo a petista, o ex-presidente uruguaio José Mujica, as Farc, o Foro de São Paulo e a entrada da Venezuela no Mercosul. A conclusão de Bolsonaro é de que as evidências levam a crer que as recentes ameaças terroristas detectadas pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) fazem parte de um plano do governo para decretar situação de Estado de Segurança. Assim, de acordo com ele, Dilma não entregaria o poder em caso de impeachment. "O Brasil está na iminência de mergulhar num banho de sangue", disse, apocalíptico. Notório pelo histórico de polêmicas, Marco Feliciano (PSC-SP) também atacou o governo sem entrar no mérito do pedido de impeachment assinado por Hélio Bicudo, Janaína Paschoal e Miguel Reale Júnior. Feliciano abordou alguns de seus temas recorrentes: "tentativa (da esquerda) de destruir a família tradicional", aborto e o Projeto Escola Sem Homofobia, chamado por ele de "kit gay". Ainda argumentaram pelo impeachment de Dilma Arolde de Oliveira (PSC-RJ), Eduardo Bolsonaro (PSC-SP) e o líder da legenda na Câmara, André Moura (PSC-SE). Baixo clero e papel picado colorido - Apesar de bastante esvaziado o plenário da Câmara, ainda são ouvidos, após 19 horas de sessão, discursos de deputados a respeito do impeachment da presidente Dilma Rousseff e do relatório favorável ao processo, elaborado pelo deputado Jovair Arantes (PTB-GO). A maioria dos parlamentares que falaram ao microfone na última hora e os que estão inscritos às próximas falas pertencem ao chamado baixo clero da Casa, composto por deputados de pouca expressão política. Algumas das exceções são o líder do PDT, Weverton Rocha (MA), cuja bancada fechou questão contra o impedimento da presidente, e o tucano Domingos Sávio (MG). Apesar da posição na votação de amanhã, Rocha defendeu que a legenda desembarque do governo caso Dilma se mantenha no cargo, enquanto Sávio afirmou que "o impeachment é a salvação do Brasil". O deputado Wladimir Costa (SD-PA), favorável ao impeachment, fez um discurso performático, coroado por um canhão de papel picado colorido. Envolvido por uma bandeira do Pará, entre um gole e outro de açaí, Costa não tocou nos assuntos pedaladas fiscais ou crime de responsabilidade. O deputado preferiu comparar Lula, Dilma e "outros meliantes perigosos" aos traficantes Pablo Escobar, El Chapo Guzmán, Fernandinho Beira-Mar e Marcola, o líder do PCC. Com acesso liberado à votação do impeachment pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), familiares de deputados já começam a dar o ar da graça no plenário. Um dos primeiros a trazer a família ao ambiente de trabalho foi o líder do PSDB, Antônio Imbassahy (BA). Por volta das 2h, o tucano baiano circulava pelo plenário ao lado da mulher e duas filhas. As moças viraram o centro das atenções de alguns colegas do pai, como Fernando Francischini (SD-PR) e Caio Narcio (PSDB-MG). DEM, os alckmistas e o Stédile pró impeachment - Em uma sequência indigesta a Dilma Rousseff, cinco deputados do DEM, entre os quais o líder Mendonça Filho (PE), reafirmaram a ilegalidade das pedaladas fiscais que motivam o pedido de impeachment na Câmara e atacaram a campanha eleitoral que elegeu a petista em 2014. Um dos democratas mais incisivos foi Mandetta (DEM-MS), que afirmou que o PT é um "partido de vagabundo que não sabe honrar o tributo do povo brasileiro". Mais comedido nas palavras, mas não no tom, Mendonça Filho criticou a "má política praticada em quartos de hotéis" de Brasília, em referência às negociações conduzidas pelo ex-presidente Lula. Os deputados Rodrigo Garcia (DEM-SP), secretário de Habitação estadual de São Paulo, e Arnaldo Jardim (PPS-SP), secretário de Agricultura da gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), reassumiram suas cadeiras na Câmara para votar pelo impeachment. Justificando as exonerações temporárias assinadas pelo governador paulista, Garcia afirmou que "esse governo está afundado em corrupção" e Jardim ponderou que "virá um período duro, de ajuste, de reconstruir o pais". Antes de os secretários de Alckmin falarem ao microfone, o deputado José Stédlie (PSB-RS), irmão do presidente do MST, João Stédile, reafirmou em discurso na Câmara seu voto... pelo impeachment de Dilma Rousseff. Enquanto o "exército" de seu irmão engrossa o coro propagado do Planalto contra o suposto "golpe" no processo de impedimento em curso no Congresso, José Stédile afirmou que "o PSB não vai assinar embaixo da roubalheira do país" e, embora não haja certeza de que a situação do país vai melhorar com Temer na presidência, "com Dilma tenho certeza que piora". O Stédile pró-impeachment ainda arrematou sua explanação argumentando que "quase destruíram o setor elétrico, quase destruíram a Petrobras. Só temos uma resposta a dar, que é o impeachment da presidente". Assim como José Stédile, socialistas como Heráclito Fortes (PI), que afirmou que "(impeachment ) é o único mecanismo dentro do sistema democrático que podemos lançar mão para livrar o país do caos em que se encontra", e Danilo Forte (CE), que disse que "o Brasil precisa segunda-feira começar de cara nova", também desfilaram argumentos a favor do impedimento de Dilma. Depois de o PP fechar questão favoravelmente ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, uma dupla de deputados recém-chegados à legenda atacou o governo em discursos na Câmara. Ricardo Izar (PP-SP), egresso das fileiras do PSD, descreveu as manifestações em frente ao Congresso no domingo, dia da votação, como uma oposição entre "cidadãos de bem, militantes que vêm voluntariamente pedir o fim da corrupção" e "militantes, sindicalistas, pelegos que vivem do suor do trabalhador". Fausto Pinato (PP-SP), que ganhou notoriedade ao relatar o pedido de cassação de Eduardo Cunha no Conselho de Ética da Câmara e emigrou do PRB, conclamou uma "trincheira da liberdade" e revelou que sua filha de sete anos lhe pede "papai, vota par ao impeachment da Dilma". Os pepistas paulistas foram sucedidos no microfone da Câmara por outra dupla: Glauber Braga e Chico Alencar, ambos do PSOL-RJ e contrários ao impeachment. Enquanto Braga atacava o "acordão que está sendo formatado para levar a cúpula do PMDB Nacional ao comando de todos os poderes da República", Alencar erguia dois cartazes. Um classificava Cunha e o vice Michel Temer como "chefes do acordão" e o outro lembrava que o presidente da Câmara é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento no Petrolão.

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