terça-feira, 21 de junho de 2016

Odebrecht comprou banco para manobrar propina, diz delator


Novo delator da Operação Lava Jato, o administrador Vinicius Veiga Borin, responsável pela abertura de contas no Exterior para a Odebrecht, afirmou que a empreiteira comprou uma filial de um banco estrangeiro no Caribe apenas para proteger suas offshores, destinadas ao pagamento de propina. O objetivo inicial era preservar contas secretas da empresa, com saldo de pelo menos US$ 15 milhões, num banco de Antígua que estava insolvente, o AOB (Antigua Overseas Bank). A empreiteira, segundo Borin, chegou a cogitar a possibilidade de comprar parte do AOB, mas desistiu do negócio por considerar que o banco não estava em boa situação financeira. Na colaboração, assinada na última sexta-feira (17) e ainda pendente de homologação pelo juiz Sergio Moro, Borin ainda deu o nome de outras 29 contas no Exterior que receberam dinheiro da Odebrecht, em repasses que somam US$ 134 milhões – e que agora serão alvo de investigação da força-tarefa. Entre elas, está a offshore Shellbill, segundo os investigadores, de propriedade do marqueteiro João Santana, responsável por campanhas eleitorais de Lula e Dilma Rousseff, e também preso na Lava Jato. A conta, segundo o delator, recebeu US$ 16 milhões oriundos de três offshores da Odebrecht. A compra foi feita em 2010. Segundo o delator, foram adquiridos 51% da filial do banco austríaco Meinl Bank em Antígua, por cerca de US$ 4 milhões. As contas da Odebrecht foram, então, transferidas do AOB para a nova instituição bancária. Elas foram encerradas posteriormente, entre 2013 e 2015 – a maioria, após a deflagração da Operação Lava Jato. O negócio, segundo Borin, foi realizado por ele e mais seis pessoas que atuavam em nome da Odebrecht – entre elas Olívio Rodrigues Júnior, Luiz Eduardo Soares e Fernando Migliaccio da Silva, todos presos em fases anteriores da Lava Jato. Segundo o delator, as contas da empreiteira movimentaram US$ 1,6 bilhão no Meinl Bank em Antígua, e US$ 1 bilhão no AOB. Para Borin, "pelo volume de dinheiro e pela estrutura criada", seria "impossível" o presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, não ter conhecimento dos repasses. O delator ainda deu detalhes sobre o sistema paralelo de contabilidade criado pela Odebrecht para administrar o pagamento de propinas, alvo da 26ª fase da Lava Jato. Borin afirmou que repassava, pelo sistema, extratos diários da movimentação das offshores da empreiteira. Seu codinome era "Feeling", depois, alterado para "Mustang". Executivos da Odebrecht ainda negociam até hoje acordo de colaboração premiada com a Lava Jato.

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