terça-feira, 21 de junho de 2016

Odebrecht comprou um banco no Caribe só para ocultar e distribuir as propinas do Petrolão do PT


A Odebrecht comprou o controle acionário de um banco em Antígua, no Caribe, mantido em nome de terceiros, para abastecer contas no Exterior, grande parte delas usadas para fazer pagamentos determinados pelo setor de Operações Estruturadas, departamento criado pela empreiteira baiana corrupta propineira exclusivamente para distribuir propinas no Petrolão do PT. O Meinl Bank Antígua foi adquirido em 2010 por executivos ligados ao grupo e movimentou cerca de US$ 1,6 bilhão em mais de 40 contas. As informações são de Vinícius Borin, um dos três integrantes da administração do banco, que assinou acordo de delação premiada na Operação Lava-Jato e prestou depoimento no último dia 17. Além de Borin, assinaram delação os também operadores Luiz Augusto França e Marco Pereira de Souza Bilinski. Segundo Borin, a compra de 51% do Meinl Bank Antígua foi fechada por US$ 3,984 milhões e o restante permaneceu com o Meinl Bank Viena. Mais tarde, o grupo exerceu opções de compra e chegou a deter 67% das ações da instituição. Segundo Borin, as contas que operavam para a Odebrecht foram abertas em nome de terceiros, como o Fernando Migliaccio, que foi funcionário do grupo, e Olívio Rodrigues Junior, que foi sócio da Graco Corretora. Para justificar o repasse de dinheiro a terceiros eram firmados falsos contratos de prestação de serviços, confeccionados por uma advogada que acabou passando a receber um valor mensal de US$ 6 mil apenas para fazer os documentos. Borin disse que todos os executivos ligados à operação do Meinl Bank tinham codinomes e senha do programa de computador criado para movimentar propina, o Drousys. Disse que depois da Lava-Jato conseguiu levantar pagamentos a algumas contas "suspeitas" e identificou US$ 16,633 milhões pagos à ShellBill, que pertence ao publicitário João Santana, responsável pelas campanhas de marketing do PT à presidência - as duas que elegeram Dilma Roussef e a do ex-presidente Lula, em 2006. Ele não soube dizer se todos os recursos movimentados pela instituição financeiras eram ilegais, mas acredita que a maioria sim. Borin afirmou que a maioria das contas foi fechada em 2015, depois que as offshores apareceram na Operação Lava-Jato. Já com o empresário Marcelo Odebrecht preso, Felipe Montoro Jens e Fernando Migliaccio, representantes do grupo, chegaram a sugerir que os executivos do banco deixassem o Brasil e se mudassem para Portugal, República Dominicana ou para Antígua, já que as operações eram coordenadas do Brasil. O grupo teria chegado ainda a pensar em comprar o restante da participação no banco, para fechá-lo e sumir com a documentação. Borin identificou para a Lava-Jato 27 contas beneficiárias de US$ 132,6 milhões pagos pela Odebrecht por meio de contas no Meinl Bank Antígua. Todas pertencem a offshores. Parte dos recursos movimentados pelo banco voltava para o Brasil e era repassado a especialistas em lavagem de dinheiro. Na contabilidade paralela da Odebrecht, controlada pelo departamento de propinas, o retorno era identificado com codinomes como operação Dragão, Kibe e Esfiha. Entre os responsáveis em receber o dinheiro e providenciar os reais estava o chinês Wu-Yu Sheng, que mantinha quatro contas no banco. Depois da Lava-Jato, segundo Borin, Wu-Yu saiu do país e foi morar na Flórida (EUA). Duas contas dele foram encerradas e outras duas, segundo o delator, ainda mantinham um saldo total de US$ 289 mil. Das 27 contas offshores listadas as que mais receberam recursos foram Tech Trade Corporation, com US$ 24,4 milhões; Sun Oasis, com US$ 12,7 milhões; e Brooklet Holdings, com US$ 8,821 milhões. Os beneficiários finais não foram identificados. Outras 10 contas foram nomeadas, mas sem a indicação de valores movimentados. Todas pertencem a offshores . Borin disse que nunca teve contato com o empresário Marcelo Odebrecht, mas que dificilmente ele não saberia da operação, devido ao volume de recursos movimentados. Antes da compra do Meink Bank Antígua, a Odebrecht usou o Antígua Overseas Bank e movimentou cerca de US$ 1 bilhão. Borin trabalhava na tesouraria do banco quando foi procurado por Olívio Rodrigues Júnior, que falou em nome da Odebrecht e disse que a empresa precisava abrir contas devido a obras no exterior. O setor de compliance da instituição chegou, segundo ele, a visitar instalações da empresa no Brasil. Todas as contas eram abertas no nome de Olívio, mas Borin achava que era por uma questão de planejamento tributário e hoje "entende melhor a razão". Borin citou sete contas, entre elas a Klinfeld, e dois fundos que continuam em operação (Apex e Granite). Os principais contatos no grupo Odebrecht, além de Olívio, eram Fernando Migliaccio e Luiz Eduardo Soares. Em 2010, o Antígua se tornou insolvente e a Odebrecht perdeu dinheiro, levando a empresa a fazer diversas reuniões com o banco na tentativa de reaver os valores. A compra de ações do Meinl Bank surgiu como nova opção e foi feita em nome de Migliaccio, Soares e Olívio, além de Luiz França, Marco de Souza e Vanuê Faria, que atuava no setor financeiro da Cervejaria Itaipava, e acabou saindo do negócio cerca de um ano depois. Todos os envolvidos na operação recebiam comissão de 2% sobre cada valor que entrava nas contas. Os que administravam o banco - Borin, França e Souza - recebiam ainda um valor fixo de US$ 10 mil por mês. Olívio, que controlava as contas usadas pela Odebrecht, recebia diariamente os extratos da movimentação. Os dados do banco podem estar salvos em um backup fora do país. Em depoimento à Polícia Federal, Camilo Gornati afirmou que o sistema do Meinl Bank Antígua podem ainda estarem preservados. No sistema podem ter detalhes de requisições eletrônicas com o nome da obra, o superintendente responsável na construtora e o beneficiário com codinome. Gornati era um operador de TI responsável pela instalação do sistema. Nesta segunda-feira, o juiz Sérgio Moro suspendeu os depoimentos de Vinícius Borin, Luiz Augusto França e Marco Pereira de Souza Bilinski previstos para a próxima quarta-feira. Os três foram arrolados como testemunhas de acusação na ação que investiga a “Diretoria de Propina”. Eles só serão ouvidos quando terminarem os depoimentos deles ao MPF. A Odebrecht informou que não vai se pronunciar. O advogado Tacla Duran foi procurado e não foi localizado pelo GLOBO. 

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