sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Documentos sobre ditadura argentina revelam tentativa de aproximação com governo Carter



Novos documentos liberados pelos Estados Unidos sobre a ditadura militar na Argentina revelam uma tentativa do general ditador Jorge Rafael Videla de se aproximar do governo de Jimmy Carter, além do ocultamento de informações por parte de funcionários americanos sobre o que se passava durante o regime militar argentino (1976-1983). Os 1.081 arquivos confidenciais foram distribuídos a organizações de Direitos Humanos e à imprensa na tarde da última segunda-feira na Casa Rosada, incluindo testemunhos de tortura, cartas de Videla a Carter e relatórios diplomáticos. Casos emblemáticos, como o sequestro e tortura sofridos pelo político socialista Alfredo Bravo e pelo jornalista Jacobo Timerman, são descritos no material, podendo servir em processos judiciais contra os militares por violação de direitos humanos. De acordo com o jornal “Clarín”, funcionários americanos ocultavam informações recebidas sobre a Argentina: partes de um relatório da subsecretária de Direitos Humanos de Carter, Patricia Derian, foram apagadas por ordem de Henry Kissinger, ex-secretário dos governos Nixon e Ford. Nos textos constam o testemunho de Alfredo Bravo, que em uma conversa com o então embaixador dos EUA em Buenos Aires, Raúl Castro, em 28 de agosto de 1978, detalhou “o horror de sua detenção e tortura e denunciou a técnica conhecida como afogamento simulado”. Sobre Jacobo Timerman, há uma carta do embaixador dos EUA em Tel Aviv a Patricia Derian. Nela, é relatado que o jornalista se reuniu com a imprensa na cidade israelense e afirmou que “ainda não iria escrever sobre sua experiência na Argentina por medo de represálias”. Em 1977, Timerman foi sequestrado e brutalmente torturado. Ele foi libertado três anos depois. Há ainda uma carta de Videla a Carter, justificando a detenção de prisioneiros sobre os quais o presidente dos Estados Unidos havia mostrado interesse. “Membros ativos do Partido Comunista Revolucionário, integrantes do grupo terrorista e desenvolvem tarefas de inteligência”, descreveu o ditador. Outro documento narra a visita de Kissinger à Argentina durante a Copa do Mundo. Em um almoço com Videla, o ex-chefe da diplomacia americano o felicita "por vencer os terroristas", mas adverte que as técnicas utilizadas não são mais "justificáveis". Nos documentos também tem uma correspondência de Carter para Videla se desculpando por não ter ido ao casamento de um dos filhos do militar. O convite para a celebração demonstraria o interesse da ditadura argentina em se aproximar do governo americano. Em sua visita a Buenos Aires, em março passado, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, comprometeu-se a abrir novos arquivos em poder do governo americano com informações sobre ações da última ditadura argentina. Os documentos foram entregues na quinta-feira passada pelo secretário de Estado americano, John Kerry, ao presidente da Argentina, Mauricio Macri. O secretário de Direitos Humanos argentino, Claudio Avruj, disse que o passo dado pelos Estados Unidos "vai encorajar muitos outros que têm arquivos desse tipo" e antecipou que muito em breve os documentos do Vaticano sobre a ditadura argentina também serão abertos. 

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