segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Guerra de versões no mundo da propina do Petrolão, Walter Torre nega ter recebido propina de cartel

O empresário Walter Torre Júnior, fundador e CEO da WTorre Engenharia, afirmou à Polícia Federal, no dia 28 de julho, que "tomou conhecimento" do cartel de empreiteiras que atuava na Petrobras, mas negou que tenha recebido R$ 18 milhões para que sua empresa, que não fazia parte do conluio, desistisse da licitação do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) em 2008, cujo valor inicial foi de R$ 850 milhões. Ele disse ainda que "bota a mão no fogo" pelo diretor de sua empresa Francisco Caçador, que participou da licitação. Segundo Walter Torre, sua companhia "não se utiliza de expedientes ilícitos". A versão do empresário vai na contramão da apresentada pelo dono da Carioca Engenharia (que confessou ter participado do cartel e compunha o consórcio vencedor do Cenpes) e delator Ricardo Pernambuco Junior, que relatou ter confirmado com Walter Torre o acerto da propina naquele ano. Em 2008, a WTorre ficou em primeiro lugar na disputa, oferecendo um preço quase R$ 40 milhões abaixo do primeiro colocado, mas não ofereceu desconto na negociação com a Petrobras para fechar o acordo e a disputa acabou sendo vencida pelo Consórcio Novo Cenpes, formado pelas empreiteiras que participavam do cartel na Petrobras e que ofereceu um desconto na negociação final com a estatal. O episódio da licitação do Cenpes foi alvo da 31ª fase da Lava-Jato, a Operação Abismo, deflagrada em 4 de julho e que prendeu o ex-tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, e conduziu coercitivamente Walter Torre para depor sobre o episódio. Segundo os investigadores, houve um total de R$ 39 milhões em propinas pagas pelas empreiteiras do consórcio vencedor (Consórcio Novo Cenpes), sendo R$ 18 milhões para a WTorre desistir da obra e R$ 19 milhões para operadores de propinas que repassaram os recursos para o PT, para Paulo Ferreira e para ex-executivos da estatal petrolífera. Em sua versão, Walter Torre relatou que sua empresa sempre atuou no mercado privado e que acabaram abrindo uma área específica para atuar em contratos da Petrobras. Após ser cadastrada entre os fornecedores da estatal, a WTorre recebeu então a primeira carta-convite para participar de um certame na estatal, exatamente o do Cenpes. A partir daí, relata o empresário, ele e outros executivos de sua empresa começaram a perceber a pressão do cartel para não vencerem a licitação. "Como sempre realizou em obras privadas, a WTorre se aproximou de seus fornecedores para formular a proposta à Petrobras, visando a ajustar um preço que não pudesse flutuar; que durante esse movimento, o declarante e seus funcionários perceberam que os fornecedores começaram a mencionar que havia algo de errado em a WTorre assumir o Cenpes; que os fornecedores mencionavam que havia um descontentamento no mercado com relação a tal possibilidade", relatou. Diante disso, na versão do executivo, ele e o diretor da WTorre Francisco Caçador foram conversar com Ricardo Pernambuco Junior, da Carioca Engenharia. "A reunião ocorreu na casa de Rico (Ricardo Pernambuco Júnior, em um condomínio fechado, no Brooklin); que Rico estava de saída para Disney, com a família, inclusive com malas na porta da casa. Que na ocasião, Caçador perguntou a Rico sobre a pressão que fora noticiada pelos fornecedores e Rico disse que não era para a WTorre fazer a obra, pois era uma obra 'do grupo'", relatou. Na versão de Walter Torre, Ricardo Pernambuco Júnior teria agido de forma "arrogante" afirmando ainda que, se a WTorre quisesse participar de alguma licitação o "grupo" poderia incluí-los em outra obra, mas não na do Cenpes. "Em tal encontro não se falou em dinheiro, nem houve qualquer oferta para que a WTorre desistisse do certame", disse o executivo. Em sua delação, porém, Ricardo Pernambuco Júnior disse que o encontro ocorrido em sua residência foi apenas para confirmar que havia sido feito o acerto de R$ 18 milhões para a WTorre por meio do ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro. "Como o Walter Torre conhecia a mim deste consórcio anterior, o Walter Torre foi à minha casa. Eu tô tentando. É muito difícil dizer a data, mas eu me lembro que eu tava indo pro Exterior, a trabalho. Então, ele foi à minha casa, eu moro no Brooklin, em São Paulo, entrou pela garagem e tudo, foi à minha casa e foi só pra dizer que teve a conversa (com Léo Pinheiro) e pra dizer: "tá tudo ok?". Eu disse "tá tudo ok". O que você combinou com o Léo (Pinheiro, da OAS) nós vamos cumprir, o consórcio como um todo", disse o delator. À Polícia Federal, Walter Torre disse que não conhece Léo Pinheiro, e que não teve nenhum contato com ele referente à obra do Novo Cenpes. "Não houve qualquer oferta ou pedido nesse sentido (para a WTorre deixar a licitação) e não houve qualquer pagamento; Que a empresa WTorre não se utiliza de tais expedientes ilícitos em sua atuação; Que especialmente quanto a Francisco Caçador, afirma que "põe a mão no fogo" por ele, e que acredita que nenhum funcionário seu tenha aceitado ou recebido qualquer quantia no âmbito da obra do Novo Cenpes", disse o executivo.

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