quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Kerry entrega documentos americanos sobre a ditadura militar argentina a Mauricio Macri


Nesta quinta-feira (4), em passagem por Buenos Aires, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, entregou ao presidente argentino, Mauricio Macri, documentos sobre a última ditadura no país (1976-1983). Até então, os papéis eram considerados secretos. A medida havia sido prometida em março pelo presidente norte-americano, Barack Obama, que esteve na Argentina em uma visita que selou a reaproximação entre os países após 12 anos de gradual afastamento promovido pelo kirchnerismo (2003-2015). Em 2002, os Estados Unidos já haviam desclassificado cerca de 4.000 documentos sigilosos. Essa nova leva, porém, inclui papéis militares e do serviço de inteligência. Kerry informou que, após a entrega da primeira leva, outros documentos serão liberados. A visita ocorre antes de Kerry seguir para o Brasil, onde assistirá à abertura da Olimpíada. A chanceler argentina, Susana Malcorra, durante entrevista junto a Kerry, disse estar preocupada com a possibilidade de a crise no Mercosul enfraquecer o bloco e ter uma projeção externa. "Estamos em um momento muito crítico e pretendemos avançar em muitas frentes com o Mercosul, com o acordo de livre comércio com a União Europeia e com outros tratados. Acreditamos que a crise pode afetar o posicionamento do Mercosul". O problema em torno da Presidência do bloco se acentuou na última semana, quando o Uruguai deu por encerrado seu período no comando, alegando não ver empecilhos jurídicos para que a Venezuela assumisse. O governo do ditador comuno-bolivariano Nicolás Maduro se autoproclamou presidente do Mercosul, mas não recebeu a chancela de Brasil, Argentina e Paraguai. Questionado sobre a possibilidade de a Presidência do Mercosul ficar com Maduro, o secretário de Estado apenas afirmou que Malcorra era a mais indicada para falar do assunto. A chanceler repetiu que a posição argentina é de que a passagem da liderança precisa ocorrer em uma reunião oficial do Mercosul. Kerry, por sua vez, discorreu sobre a situação da Venezuela, que passa por uma crise política, econômica e social. O americano disse estar bastante preocupado com o cenário no país e espera que o referendo que pode revogar o mandato de Maduro avance. "Encorajamos a Venezuela a abraçar o referendo, não de uma forma lenta, empurrando para o próximo ano. Mas fazendo isso em sinal de respeito à Constituição e às necessidades da população do país". A oposição venezuelana tem pressa para a realização do referendo, pois só haverá novas eleições caso o presidente seja destituído antes de 10 de janeiro de 2017. Caso contrário, o vice de Maduro assumirá. Nesta semana, a primeira etapa de coleta de assinaturas para a realização do referendo foi aceita. Kerry ainda frisou que os EUA estão tentando dialogar com o governo de Maduro e comprometido com o "restabelecimento total da democracia" venezuelana. A crise do Mercosul se arrasta há alguns meses porque Brasil, Argentina e Paraguai, ao considerarem que o governo de Maduro viola direitos humanos, opõem-se a uma Presidência do bloco comandada pela Venezuela. Devido ao sistema de rotação, no qual a liderança muda a cada seis meses seguindo a ordem alfabética, a Presidência do Mercosul caberia à Venezuela. 
A Argentina sugeriu que a liderança seja compartilhada pelos países até o fim deste ano, quando o presidente Macri assumiria, dando continuidade à rotação alfabética. Uma reunião de diplomatas discute essa possibilidade nesta quinta em Montevidéu. O Presidente do Mercosul é o responsável por convocar e organizar as reuniões do grupo em seu território, além de definir a pauta dos encontros. O cargo, porém, é mais formal, pois as decisões tem de ser tomadas em consenso em reuniões de chanceleres. A falta de um presidente, porém, pode acabar tornando as negociações mais lentas. O secretário de Estado reforçou o apoio americano ao governo e às políticas econômicas de Macri. "Sabemos que há desafios econômicos na Argentina, mas Macri tomou atitudes importantes e corajosas para criar empregos. Os EUA apoiam fortemente o esforço da Argentina para aprofundar sua integração na economia global". Kerry acrescentou que conversou com empresários americanos que atuam em território argentino e que eles investirão no país: "O aporte de recursos não ocorrerá da noite para o dia, mas acontecerá pela determinação do governo Macri".

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