sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Moro volta a reafirmar que os problemas da Petrobras são anteriores à operação Lava Jato


Para duas mil pessoas reunidas na quinta-feira à noite, em Curitiba, o juiz federal Sérgio Moro voltou a afirmar que a Lava-Jato não é culpada pela grave crise econômica que a Petrobras se encontra. Para o juiz, uma das saídas possíveis para reverter o quadro de corrupção é a aprovação da proposta de "Dez medidas Contra a Corrupção", encampada pelo Ministério Público Federal. "Existem algumas pessoas que argumentam que os problemas econômicos da Petrobras vieram à tona por causa da Lava-Jato, mas esses problemas precedem e muito as investigações",  destacou Moro, citando como exemplo os prejuízos da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, uma das obras investigadas. Moro voltou a dizer que ficou assustado com a naturalidade com que os envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras detalhavam as irregularidades. "Uma coisa que me perturbava muito foi a constatação de que vários dos envolvidos confessaram o pagamento e recebimento de propina de maneira muito natural, revelando uma naturalização do pagamento de propina em contratos pelo Brasil", disse. O juiz destacou as possíveis soluções para o quadro de corrupção sistêmica identificado no Brasil, envolvendo sociedade e todos os poderes. Ele voltou a citar a importância da aprovação do projeto do Ministério Público Federal que está em trâmite no Congresso. "Tenho fé que o projeto será aprovado", apontou, destacando que esteve no Congresso para defender a proposta e viu uma mudança de postura dos legisladores sobre a tolerância à corrupção. Perguntado por uma aluna como se sente em "representar uma mudança para o País", Moro respondeu que seu papel não deve ser superestimado: "É um trabalho institucional. Existe uma confusão que se faz porque eu não sou um juiz investigativo. Mas, em geral, eu estou satisfeito com o meu trabalho. Posso ter errado às vezes, mas me sinto satisfeito", declarou, arrancando palmas e risos da platéia. Sobre as dificuldades enfrentadas pelo Judiciário no combate à corrupção, o juiz citou que deve haver uma mudança cultural no sistema de Justiça, aliada a mudanças legislativas para acabar com a morosidade dos processos e o foro privilegiado. "Se o Judiciário tiver 50% de rigor contra a corrupção como tem, por exemplo, contra o crime de tráfico de drogas, já é um primeiro passo", citou. Questionado sobre pequenas atitudes que podem elevar o conceito de ética pelos brasileiros, Moro citou a Olimpíada: "A grande maioria dos brasileiros ficou satisfeita e orgulhosa com a abertura da Olimpíada, por exemplo, é e um trunfo fazer uma olimpíada no nosso País, mas alguns episódios entristecem, como as vaias contra outros países", mencionou. O juiz se defendeu novamente do questionamento sobre posicionamento político-partidário em relação ao julgamento de ações da Lava-Jato. "Quando agentes políticos praticam crimes, normalmente há repercussão política, mas isso não significa que, no processamento e julgamento do caso, haja tendências político-partidárias por parte do julgador", declarou, completando: "O juiz tem que aplicar a lei sobre os fatos e as provas". A palestra de Moro, intitulada "Ética empresarial e na vida pessoal" foi restrita a alunos da Universidade Positivo (UP).

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