domingo, 7 de agosto de 2016

Morre aos 93 anos o cirurgião plástico Ivo Pitanguy, no Rio de Janeiro



O cirurgião plástico Ivo Pitanguy morreu na tarde deste sábado (6), aos 93 anos, no Rio de Janeiro. Ele teve uma parada cardíaca e morreu às 17h30. Nascido em Minas Gerais e formado em medicina na Faculdade Nacional de Medicina (atual UFRJ), em 1946, acabou desenvolvendo novos métodos que se tornaram referência internacional no campo das cirurgias plásticas. Na manhã de sexta-feira (5), Ivo Pitanguy conduziu a tocha olímpica no bairro de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro. Ele fez o trajeto sentado em uma cadeira de rodas. Com prolífica produção literária, o cirurgião era membro da Academia Brasileira de Letras, tendo sido eleito titular da cadeira 22 em 1990. Em 2015, o cirurgião plástico foi internado algumas vezes com problemas renais. Em setembro, ficou no CTI (Centro de Terapia Intensiva) do Hospital Samaritano, no Rio dde Janeiro. Depois disso, passou a fazer hemodiálise periodicamente. Em novembro, voltou a ser internado com deficiência renal. Filho de um médico de Belo Horizonte, o jovem Ivo Hélcio Jardim de Campos Pitanguy, nascido em 1923, não parecia ter ousado muito ao escolher sua carreira. Resolveu cursar medicina como o pai, primeiro na Universidade de Minas Gerais (hoje UFMG), concluindo o curso na Faculdade Nacional de Medicina (atual UFRJ, no Rio). Bem mais incomum para a época, no entanto, foi o que ele escolheu fazer depois de formado, em 1946: partir para o Exterior para se especializar em cirurgias estéticas. Com a ajuda de bolsas de estudo de instituições americanas e britânicas, Pitanguy passou por hospitais dos EUA, da França e do Reino Unido, aprendendo os fundamentos desse tipo de procedimento cirúrgico com especialistas que estavam tratando pessoas desfiguradas durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo. Por isso mesmo, colegas e ex-alunos do médico afirmam que, apesar de sua reputação estar muito ligada às cirurgias de efeito puramente estético, Pitanguy se destacou primeiro como um especialista em cirurgias reparadoras, lidando com casos de deformidades congênitas ou de ferimentos por queimaduras. "Ao longo de toda a sua carreira, ele sempre esteve muito ligado à área das cirurgias reparadoras", diz Cláudio Rebello, membro da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica). Antes de ter sua própria clínica, e mesmo depois de passar a atender pacientes nela, Pitanguy realizava cirurgias de mão e outros procedimentos na Santa Casa do Rio e no Hospital Souza Aguiar. O médico e seus colaboradores, aliás, ganharam renome nacional justamente por fazer um mutirão para atender as vítimas de um dos piores incêndios da história do País, que afetou o Gran Circo Norte-Americano, instalado em Niterói (RJ), em dezembro de 1961. Das pessoas presentes no circo quando o fogo começou, muitas sofreram queimaduras bastante graves, sendo atendidas pela equipe. "Isso teve enorme repercussão para a reputação dele", afirma o cirurgião plástico Pedro Martins, da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), ex-aluno de Pitanguy, assim como seu filho. Além disso, afirma Martins, Pitanguy passou a se destacar por sua criatividade, desenvolvendo novos métodos que acabariam se tornando o padrão-ouro das intervenções cirúrgicas de sua área. "No caso das cirurgias mamárias, as técnicas que ele desenvolveu para diminuir o tamanho das mamas ou corrigir mamas caídas foram revolucionárias para a época", diz o médico. Martins explica que, nesse tipo de intervenção, o costume era definir, já antes da cirurgia, o ponto onde ficaria o chamado complexo areolo-mamilar, ou seja, o conjunto formado pelo mamilo e pela aréola, o círculo mais escuro em volta dele. Pitanguy, por outro lado, passou a definir esse posicionamento apenas depois que a "nova" mama da paciente era rearranjada, levando em conta fatores como o biótipo da mulher que estava sendo operada, dando mais naturalidade ao resultado. "Hoje, esse ponto onde o mamilo é colocado é conhecido como ponto de Pitanguy", diz Martins. Segundo ele, o cirurgião mineiro também desenvolveu técnicas inovadoras para problemas como fissuras nos lábios e no céu da boca (como no caso do chamado lábio leporino), bem como lesões causadas pela retirada de tumores de pele. Seus colegas destacam ainda o legado de publicações científicas de Pitanguy "cerca de 800" e o que Rebello define como sua "grande formação humanista": "Quando ele ia para o estrangeiro, sempre fazia questão de aprender a língua. Dava conferências em alemão na Alemanha, em italiano na Itália, e assim por diante". Seu interesse por línguas também ajuda a explicar sua vasta produção acadêmica. Membro da Academia Brasileira de Letras desde 1991, Pitanguy é autor de centenas de livros e artigos sobre cirurgias estéticas publicados em português, inglês, espanhol, francês e italiano. "Nós estamos perdendo um de nossos mais representativos acadêmicos, alguém que honrava a casa. Estou muito impactado, bastante emocionado", disse Domício Proença, presidente da ABL. Ex-alunos o definem como um professor atencioso, carismático e de trato fácil, "muito acessível, com enorme facilidade de comunicação", diz Martins. Para o médico gaúcho, foram justamente essas qualidades que levaram Pitanguy a criar uma grande escola de formação de cirurgiões plásticos, hoje com centenas de ex-pupilos espalhados pelo mundo. Casado com Marilu por mais de 50 anos, o médico teve quatro filhos e cinco netos. Pitanguy era conhecido por operar celebridades e manter sigilo absoluto sobre os nomes de seus pacientes. A lista não foi revelada nem mesmo em sua autobiografia, "Aprendiz do Tempo", lançada em 2007, ou em seu mais recente livro de memórias, "Viver Vale a Pena", de 2014, em que revela episódios com personalidades com quem conviveu. As atrizes Suzana Vieira, Sonia Braga e Marisa Berenson são algumas das famosas que já revelaram abertamente terem se submetido a procedimentos com o cirurgião. Especula-se uma grande lista que incluiria de Glória Pires à atriz italiana Sophia Loren, passando pela senadora Marta Suplicy e pelo ex-piloto de Fórmula 1, Nikki Lauda. 

Nenhum comentário: