terça-feira, 27 de setembro de 2016

O ocaso do ex-todo-poderoso petista Delcídio do Amaral nas eleições


“Acho que vou me candidatar em Curitiba. Aqui ninguém quer me ver”, ironiza a interlocutores o ex-todo-poderoso senador petista Delcídio do Amaral. Banido da vida pública pelos próximos 11 anos – o ex-petista, que afirmou à Justiça que Lula era o chefe do esquema do petrolão, hoje vive um ostracismo de ocasião. Ou, nas palavras dele, uma imersão para “cuidar do front jurídico pós-delação”. Nas eleições municipais no Mato Grosso do Sul, os políticos não se atrevem a vincular a candidatura ao delator da Lava Jato. Em Curitiba, onde tramita a maior parte dos processos relacionados ao esquema de corrupção na Petrobras, o ex-senador sul-mato-grossense, cassado em maio, acredita poder andar livremente pelas ruas: em 21 depoimentos à justiça, detalhou como funcionava a cobrança de propina na hidrelétrica de Belo Monte, incriminou parlamentares e ministros e, na cartada final, apontou o dedo para Lula, Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo e Aloizio Mercadante como articuladores para travar a Operação Lava Jato. Diz um advogado que acompanha passo a passo os meandros do petrolão: “Delcídio tem que ficar sentado na beira do rio, com um chapéu chinês na cabeça, fumando um cigarro de palha e vendo os cadáveres boiando”. “Não vai sobrar nada”, diz ele, somando a delação de Delcídio às recentes revelações do ex-bilionário Eike Batista, a prisão do ex-ministro Guido Mantega e a possibilidade de delação premiada do ex-diretor da Petrobras, Jorge Zelada. Nas eleições, adversários e ex-aliados explicam o motivo da distância do antes poderoso senador petista. Delcídio chegou ao PT pelas mãos de José Dirceu e Lula no início dos anos 2000, surfou na onda de popularidade dos primeiros mandatos petistas e implodiu tudo depois de ser preso em novembro do ano passado. “Ele chegou logo por cima para disputar o primeiro cargo no Estado. Fazia campanha em cima de um cavalo e com chapéu de pantaneiro, mas na verdade era um estrangeiro”, resume um político sul-mato-grossense. Ex-diretor da Petrobras, Delcídio passou boa parte da vida fora do Estado – foi diretor da Petrobras no Rio de Janeiro, secretário-executivo em Brasília, viveu em São Paulo e na Holanda – e se aventurou ao primeiro cargo eletivo em 2002, quando, apoiado pelo então governador Zeca do PT, foi eleito senador com 73.417 votos. “No Mato Grosso do Sul candidatos ou começam do nada ou são de família tradicional. Delcídio não tinha base partidária”, diz uma parlamentar da região ao justificar o ocaso do ex-senador depois da delação premiada. Mesmo longe dos holofotes da política, Delcídio do Amaral continua com o hábito de traçar análises políticas sobre a situação do País. Não poupa os aliados de outrora e prevê que o ex-presidente Lula, réu junto com ele em um processo de obstrução das investigações do petrolão, responderá a todos os processos que tramitam atualmente em Curitiba: além do tríplex no Guarujá, as benesses do sítio de Atibaia e palestras pagas por empreiteiras encrencadas no escândalo da Petrobras. “Não me expus publicamente nos últimos tempos, mas o que a gente percebe é que as pessoas aqui têm um sentimento de perda, de que ‘aconteceu tudo isso com ele supostamente por causa de uma obstrução à justiça’. Mas e os outros? O cenário político nacional continua instável e o quadro pode piorar. É uma pena que por causa de avaliações equivocadas muitas conquistas do PT ficaram para trás”, filosofa o ex-senador. Quase cinco meses depois de ter o mandato cassado, Delcídio começa a retomar a normalidade da vida em Corumbá. No primeiro semestre, a família se mudou temporariamente para Santa Catarina enquanto avançavam no Congresso o processo de cassação dele e o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. “Não é uma situação simples, é um recomeço. É uma retomada perto da vida absolutamente hiperativa que eu tinha”, diz.

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